terça-feira, 7 de agosto de 2007

Stanislas de Guaíta e a O.K.R.C.

Aquele que misturou a corrente científica com a corrente literária do ocultismo foi Stanislau Guaita, descendente dos marqueses de Guaita, entre os quais se contava um monarca chamado Frederico Barbarruiva; partilhou a sua vicia entre o castelo de Alteville, perto de Deixe (Lorraine), onde nasceu, em 1861, e a sua residência em Paris. No liceu de Nancy, foi condiscípulo de Maurice Barrés, que fez dele o Saint-Phlin dos Desenraizados, e diz: «Amámo-nos e influenciámo-nos um ao outro, numa idade em que se fazem as primeiras escolhas livres» (63).
Os dois amigos, quando eram estudantes de filosofia na aula de Burdeau, liam juntos, todas as noites, Baudelaire. Entregaram-se à química e à medicina, cuidando de camponeses da região. Estanislau de Guaita foi, inicialmente, um poeta simbolista e publicou três colectâneas de poemas: Os Pássaros de Passagem (1881), A Musa Negra (1883) e Rosa Mística (1883). Mas, a 10 de Outubro de 1884, escrevia a Barrés que tinha começado durante o Verão a estudar a Cabala: «Lê os livros de Eliphas Lévi, (o abade Constant) e verás que nada há mais belo do que a Cabala. E eu, que sou bastante forte em química, espanto-me de ver até que ponto os alquimistas era verdadeiros sábios». Aprendeu o hebreu para aprofundar o Zohar, referindo-se à importante glosa de Knorr von Rosenroth, Kabala Denudata, publicada em dois volumes, em Francoforte, no fim do século XVII.

Estanislau de Guaita empreendeu os «Ensaios de Ciências Malditas» a fim de libertar o ocultismo das suas falsidades. Em 1886, em No Limiar do Mistério, declarou: «A Grande Magia não é um compêndio de divagações mais ou menos espíritas, arbitrariamente erigidas em dogma absoluto: é uma síntese geral - hipotética e racional - duplamente fundada sobre a observação positiva e a indução por analogia»(64). Esta exposição histórica séria de um assunto que era tratado com ligeireza impressionou o público: «Para muitos foi uma revelação», afirmava um testemunho(65). Este livro teve, em breve, duas reedições revistas e aumentadas, e elevou bruscamente Guaita à posição de dirigente do movimento ocultista francês.

Desde que se viu rodeado de discípulos, quis logo dar à sua acção uma coesão que os colocasse na vanguarda: «De 1880 a 1887, os iniciados tiveram motivo para se inquietar: as sociedades estrangeiras iniciaram uma intriga para desfavorecer a França e deslocar para Londres a direcção do ocultismo europeu»(66). Foi por isso que Estanislau de Guaita fundou, em Maio de 1887, em Paris, a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz, tendo como missão o combate à feitiçaria com todas as suas torpezas e parvoíces, onde quer que a encontrassem: «Os Irmãos empenharam-se com honra na perseguição dos adeptos da goétia, os que se chama a si próprio magos, cuja malícia e o ridículo lançam o descrédito sobre os nossos mistérios, e cuja atitude ambígua, tanto como as doutrinas escandalosas, desonram a Fraternidade universal da grande e divina Magia, à qual afrontosamente reivindicam o direito de pertencer»(67).

Os Irmãos reunidos em torno de Guaita foram, entre outros, Joséphino Peladan, Papus, Julian Lejav, fundadores da «Sociologia analógica», Agostinho Chaboseau, especialista de budismo, o romancista Paul Adam, que acabava de alcançar a celebridade com Carne Mole (1884) e que preparava a continuação romanesca As Vontades Maravilhosas, Georges Polti, autor de uma Teoria dos Temperamentos (1889), Victor-Émile Michelet, poeta, contista e ensaísta de O Esoterismo na Arte, Albert Jounet, teórico do Esoterismo e Socialismo (1891), Françoís-Charles Barlet, cuja cultura enciclopédica alimentou o seu Ensaio Sobre a Evolução da Ideia (1891). Alta (pseudónimo do abade Mélinge), comentador do Evangelho segundo S. João.

A Ordem Cabalística da Rosa-Cruz era regida pelo Conselho Supremo dos Doze (seis dos quais deviam manter-se desconhecidos), dividida em três câmaras: a câmara de direcção, a câmara de justiça e a câmara de administração. Havia, além disso uma câmara dogmática, uma câmara estética (dirigida por Péladan), e uma câmara de propaganda (animada por Papus). A Ordem de que Estanislau de Guaita era grão-mestre ministrava um ensino sancionado por um bacharelato de Cabala e, para os aprendizes do segundo grau, uma licenciatura em Cabala. No terceiro grau, passava-se no doutoramento pela defesa de uma tese, num rés-do-chão da Avenida Trudaine, diante de examinadores de cabeceira branca e vestidos de toga vermelha. Quando o número de «Irmãos Iluminados» previsto pela constituição foi atingido, Guaita não admitiu mais ninguém na Ordem.

Ele tinha uma profunda amizade por Joséphin Péladan, o romancista que denominaram o Balzac do ocultismo, por causa da sua «etopeia» A Decadência Latina, ciclo de vinte romances, começado em 1884 com O Vicio Supremo, que tinha como herói o mago Merodack (cuja reedição de 1886 foi corrigida de acordo com os conselhos de Guaita). Mas Péladan era um católico intransigente e um inimigo da filosofia alemã, enquanto que Guaita, admirador desta, costumava dizer: «Entre os católicos, os únicos que não são imbecis são os esotéricos e os místicos»(68). E Guaita ora mortificava Peladan: «Hei-de provar-te, de forma clara como a água, que aquele que perde um instante que seja com o exoterismo da Bíblia e dos Evangelhos não merece o nome de cabalista e pensador», ora o punha em guarda: «Toma cuidado não te venhas a tornar, efectivamente, um fanático. Os fanáticos são feios (desfigurados pelo ódio) e cheios de caspa - talvez por causa do espírito de mortificação»(69).

De qualquer modo, em 1890, Péladan provocou um cisma pela criação da Terceira Ordem Intelectual da Rosa-Cruz, da qual se qualificou Hierarca supremo sob o nome de Sar Merodack Péladan (significando Sar em Assírio, Rei), grão-mestre da Rosa-Cruz do Templo do Graal. Organizou seis salões que reuniam cento e setenta artistas, cuja organização entregou ao conde de Larmandia, que nomeou «comendador de Guboura» (pois conferia aos seus amigos títulos inspirados pelos dez Sephirot).
O primeiro salão, em casa de Durand-Ruel, começou por uma «inauguração fantástica»; contaram-se mais de vinte e dois mil e seiscentos visitantes das artes e das letras parisienses, desde a aristocracia até Verlaine «no seu traje de passeio de hospital»(70). Houve uma soirée triunfal onde a «pastoral caldaica» de Péladan, O Filho das Estrelas, foi interpretada com música de Erik Satie.
O segundo salão teve lugar, em 1893, no Palácio de Campo-de-Março, acompanhado por um manifesto de Péladan, «cardeal laico», que apresentou a sua Ordem como uma «confraria de caridade intelectual», que «visita os doentes da vontade e os cura da vertigem da passividade (...), consola os prisioneiros das necessidades materiais (...) e resgata os cativos dos preconceitos»(71), apontando-lhe doze objectivos. Tais «gestos de exteriorização estética» (como ele chamava aos seus salões), eclipsaram pela sua mundanidade os trabalhos da Rosa-Cruz cabalista. Ainda hoje, nos manuais de história literária, se fala mais de Péladan, cabalista fantasioso (que, aliás, tinha talento e uma agradável extravagância), do que do grande filósofo Estanislau Guaita.

Enquanto a Terceira Ordem assumia o escândalo a brincar, a Ordem cabalística era um grupo verdadeiramente anticonformista de eruditos e letrados. Um dos melhores amigos de Guaita, o cónego Roca, a quem as teorias sobre o cristianismo esotérico, que prometia «os novos céus e a nova terra», valeram a interdição por parte da Igreja (que lhe recusou mesmo a sepultura cristã quando morreu, em 1893), tinha corrido durante quinze anos a Europa vasculhando bibliotecas, nomeadamente «a famosa Colombina da catedral de Sevilha».
O próprio Estaníslau de Guaita se comportava como um antipapa, proferindo violentos anátemas. Explodiu contra «a chusma de encantadores e feiticeiras de baixo nível», contra «a corte de místicos duvidosos» e atacou com desprezo o espiritismo: (As práticas espíritas consistem sobretudo na evolução dos mortos queridos. O cerimonial usado para esse efeito nada tem desse espectáculo de inegável grandeza que salva ainda, aos olhos do artista, os ritos mais sacrilégios da antiguidade sacerdotal»(72). Os médiuns não obtêm, também, as suas graças: «Os médiuns são, na sua maioria, pobres seres doentios, clientes sem o saberem de um verdadeiro onanismo cerebral»(73) .

Para levar a bom termo os seus ensaios de ciências malditas, Guaita reuniu a mais importante biblioteca de ocultismo que jamais existiu. Procurando incansavelmente documentos raríssimos, reuniu manuscritos iluminados da Idade Média, clavículas, engrimanços e curiosidades tão pouco conhecidas como as obras de Jehan Boulaese, o principal discípulo de Postel, ou o tratado de Bossardus, De Divinatione et magico praetigis. Quando esta biblioteca foi posta à venda pelos seus herdeiros, o catálogo enumerava 1653 livros, todos eles desaparecidos dos circuitos comerciais e alguns que nem sequer figuravam na Biblioteca Nacional. Ele tinha-os lido e relido, anotado e acrescentado folhas com comentários, tal como disse o seu amigo conde de Pouvourville (aliás, Matgioi): «Guaita trabalhava sobre os seus livros»(74). Toda a sua obra assentou sobre essa documentação excepcional da qual tirou um partido filosófico incomparável.

Estanislau de Guaita declarou-se defensor da «Cabala universal», não aquela dos rabinos, que glorificava o judaísmo, nem a dos humanistas do Renascimento, que pretendia engrandecer o cristianismo, mas a interpretação sábia dos textos sagrados feita para compreender a humanidade mesmo antes de haver as religiões. Eis a etapa nova e provavelmente definitiva da Cabala filosófica. Ele queria continuar «Paracelso, Ëliphas Lévi, Keleph-ben-Nathafl, Martines e toda a escola esotérica do Ocidente»(75). Dizia ele: «Não recorremos à Cabala zohárica (ou pelo menos ela não tem valor de autoridade para nós), a não ser subsidiariamente». Contudo, partia de Moisés: «A doutrina secreta de Moisés constitui o que nós chamamos a Cabala primitiva, a qual se materializou paralelamente à própria língua dos santuários». Mas de um Moisés que, segundo a tese de Fabre d'Olivet, teria participado da religião egípcia e que teria como único escrito autêntico a Génese, «o livro dos princípios cosmogónicos, onde a ciência colossal do passado dorme sob um triplo véu de hieróglifos»(76) .

Guaita afirmava que o Deus Pai não é Iawhé, mas Adão Kadmon, o homem celeste primordial, representante do verbo divino. A seu lado encontra-se «a nossa Mãe celeste», Eva, ou a Sofia dos gnósticos, ou a Natureza naturante esposa do Espírito puro, «numa palavra, a Providência ou a consciência universal da Vida-Princípio». Identificava Adão Kadmon aos dez Sephiroth, enquanto que para Reuchlin ele era apenas a Sephora Tipheret; mas o ponto de vista revolucionário de Guaita relaciona-se com A Porta dos Céus, de rabi Cohen Irira, reproduzido na Kabbala Denudata. Foi esse «o Grande Arcano cabalístico para o seu grupo, e Alberto Jounet pôde tirar a segumte inferência do facto: «O que distingue a cabala antiga da nova é, sobretudo, o papel importante que esta atribui a Adam Kadmon»(77).

Guaita começou, em 1887, o seu tríptico A Serpente da Génese, deveria ter três volumes de sete partes cada um, ou seja, um todo de vinte e uma partes correspondendo a vinte e um arcanos do Tarot, sendo a conclusão inspirada pelo vigésimo segundo. Ele explicou ao seu secretário, Oswald Wirth, que pretendia exprimir a Grande Doutrina do ocultismo, quer dizer, «uma síntese radical, absoluta e precisa como as matemáticas, e profunda como as próprias leis da existência»(78). Em O Templo de Satã, o primeiro volume, atirou-se à feitiçaria, essa magia às avessas que os ignorantes e os invejosos muitas vezes confundiram voluntária ou involuntariamente com a santa Cabala». Observando que Shatan, em Números, tem apenas um sentido adverbial análogo a adversus, em latim, que significa contra, exclama: «Só tens uma desculpa, á príncipe das Trevas, é que não existes!... Ou, pelo menos, não és um ser consciente: negação abstracta do Ser absoluto, só tens a realidade psíquica e voluntária que te dão os perversos em que te incarnas»(79).
Demonstrou, ao passar em revista as aberrações dos satanistas antigos e modernos, que são os idiotas, os nervopatas ou os praticantes vulgares do judeo-cristianismo que crêem no Diabo, enquanto que a Serpente da Génese, para os verdadeiros iniciados, é antes de mais nada a Luz astral, Aor, Nahash, «esse fluido implacável que governa os instintos», e em seguida «o egoísmo primordial», causa da decadência de Adão e do Mal metafísico.

O segundo volume, A Chave da Magia Negra (1897), que levou sete anos a acabar, expunha «A Inteligência da Natureza», a fim de abolir a noção de sobrenatural: «O vocábulo sobrenatural aplicado aos fenómenos da natureza parece-nos tão cómico como seria atribuir às essências espirituais o vocábulo Hiper divino»(80). Guaita descreveu com uma precisão científica as forças invisíveis que nos rodeiam, desde a Luz astral, «suporte hiperfísico do universo sensível», aos Indígenas do astral, «essas larvas nos quais os cabalistas não vêem mais do que cascas, carapaças inanimadas (córtices, Kliphoth) », agindo como «potências da dissolução emanadas do Herbe». Com efeito, a Luz astral compreende duas correntes antagonistas: «Essa imensidão psico-fluídica é movida sem tréguas por dois agentes ocultos, reitores dessas correntes: uma força compressora (Herb) e uma força expansiva (Jânah): a primeira, constritiva ao longo da cadeia do Tempo; a outra, abundante através das planícies do Espaço » (81).

Há neste livro um capítulo extraordinário sobre a morte, que ajuda a compreender porque é que Wirt qualificou o seu mestre de «platónico cabalista». Guaita distingue quatro vidas no homem (vida universal, vida individual, vida celular e vida química ou atomística) e definiu a morte como «a rotura do elo simpático DAS VIDAS». A forma alucinante como relata «a odisseia dos elementos que sobrevivem ao corpo», as agressões de que são vítimas por parte dos Masikim (que são «os vermes, os corvos e as hienas do Invisível»), o refúgio que encontra a alma na Antictona, terra espiritual, ou entre os «Hóspedes do cone de sombra», é de um pensador alimentado pela Cabala de Issac Luria e de um poeta da grande espécie.

Não teve tempo de acabar o terceiro volume, «O Problema do Mal» que devia conter a sua cosmogonia e resolver o «enigma dos enigmas» o Mal, mas as páginas magníficas que subsistem, e que tratam das «correntes fatais de instinto» e da «Queda de Adão», indicam que ele queria aí estudar a relação entre o Adão celeste (macrocosmo) e o Adão terrestre (microcosmo): «Os iniciados de todos os santuários do esoterismo consideram a Queda de Adão (esse ser cosmogónico, sejam quais forem os nomes diversos que tenha usado), como a causa universal da Involução.»(82)
A involução é «a materialização progressiva do espírito», e a evolução é «a reaparição do espírito emergindo do cerne da matéria que ele fecundou, animado e virtuoso». Enganam-se aqueles que situam a Queda de Adão no início da história da humanidade: «Primeiramente a Queda de Adão não é anterior nem posterior ao que quer que seja; ela é eterna. Cada vez que um espírito desce para se incarnar numa forma qualquer, ele comete o pecado original, e a Queda de Adão realiza-se nele, ínfimo submúltiplo de Adão.»(83)

Estanislau de Guaita gozou de uma reputação bizarra e muito pouco justificada. Era um homem de cabelos e barba louras, de olhos azuis, «com umas mãos notáveis pela sua beleza» (dizia Barrés), que vivia perto de Paris num apartamento atapetado de vermelho do qual não saía durante semanas. A sua existência era consagrada ao conhecimento esotérico e respondia à sua mãe que se lamentava do seu anticlericalismo: «Sou um soldado do exército do Verbo. Tenho sede de Justiça e de Verdade, e procuro uma ou outra onde julgo ir encontrá-las»(84), conta-se que tinha um fantasma familiar, escondido num armário. Paul Adam afirmava: «O tal fantasma aparecia quando estávamos à mesa. A sua forma indecisa mantinha-se num dos cantos da sala de jantar». Este fantasma devia muito à imaginação de uma velha criada a quem este armário, que continha drogas, era interdito. Para acalmar as dores da doença que o matou, Guaita tornou-se morfinómano. Mas manteve com a morfina a mesma relação lúcida que Thomas de Quincey teve com o ópio, e dela extraiu, talvez, a intensidade das suas percepções no plano astral. Estanislau de Guaita morreu no seu castelo de Alteville, em 1897, com trinta e seis anos, e Maurice Barrés disse com emoção sobre a sua tumba: «Sei que ele foi um filósofo, se, como eu creio, a filosofia é perante a vida a obsessão do universal é diante da morte a aceitação.» (85) Por seu lado Josephin Péladan, reconciliado, rendeu-lhe esta homenagem: «No renascimento das ciências mortas, a Tua filosofia permanecerá inesquecível, tal como a Tua obra; Tu foste, para todos, o cavalheiro do Oculto... Venero-te» (86).

A Ordem Cabalística da Rosa Cruz prolongou-se ainda por alguns anos, sob a direcção de Barlet, permanecendo o modelo exemplar do que pode fazer um grupo de escritores decididos a explorar «a Cabala universal». Franz Hartmann, que tentou formar na Alemanha uma Fraternitas análoga com a condessa Wasbtmeister, fez dela uma simples sociedade de accionistas . Seguidamente, os dois números especiais sobre a Cabala que publicaram os iniciados do Véu de Isis, em 1933, mostraram que o esoterismo moderno deixara de a privilegiar: deram-lhe o valor de uma «cadeia iniciática», unindo o presente ao passado e prosseguindo do presente para o futuro, unindo num conjunto o que está atrás e diante do homem, mas reconhecem também outros ciclos tradicionais, e admitem a possibilidade de os harmonizar todos numa «cadeia de mundos», dos quais a Cabala não seria mais do que um dos elementos fortes.

Notas
(63) Maurice Barrés, Un rénovateur de l'occultisme: Stanislas de Guaita (Paris, Chanuel, 1898).
(64) Stanislas de Guaita, Au Seuil du mystêre (Paris, G. Carré, 1886).
(65) Matgioi, Nos maitres. Stanislas de Guaita (Paris, Libraifle hermétique, 1909).
(66) Maurice Barrês, Stanislas de Guaita, op. Cit
(67) Stanislas de Guaita, Le Temple de Satan (Paris, Libririe du Merveilleux, 1897)
(68) Lettres inédites de Stanistas de Guaita au Sar Joséphin Péladan (Lausana, Pierre Genillard, 1952)
(69) Lettres inédites de Stanislas de Guaita, op. cit.
(70) Comté de Larmandie, L'Entracte idéal. Histoire de la Rose-Croix (Paris, Chacornac, 1903).
(71) Catalogue du second Salon de la Rose-Croix (Paris, Librairie Nilsson, 1893).
(72) Le Temple de Satan, op. cit.
(73) Stanislas de Guaita, La Ctef de la magie noire (Paris, G. Carré, 97).
(74) Matgioi, op. cit.
(75) Keleph-ben-Nathan era o pseudónimo de Dutoit-Membrini, um teósofo de Genêve, autor de La Philosophie divine (1793), que Guaita considerou «uma obra admirável, apesar de alguns erros».
(76) La Clef de la magie noire, op. cit.
(77) Albert Jounet, La Clef du Zohar (Paris, Chacornac, 1909).
(78) Oswald Wirth, Stanilas de Guaita. Souvenirs de son secrétaire (Paris, Ëditions du symbolisnie, 1935)
(79) La Clef de la Magie, op. cit.
(80) Ibid.
(81) Ibid.
(82) Stanislas de Guaita, Le Problème du Mal (Levallois-Perret, Ëditions du Symbolisme, 1949).
(83) Ibid.
(84) Carta citada por André Billy em Stanilas de Guaita (Paris, Mercure de France, 1971).
(85) Maurice Barrès, Stanilas de Guaita, op. Cit.
(86) Joséphin Péladan, L'Occulte catholique (Paris, 1899).
Fonte: Alexadrian, Historia da Filosofia Oculta. Lisboa, Edições 70.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

ROSA-CRUZ Y ROSACRUCIANOS

René Guénon

de Apercus sur initiation
CAPÍTULO XXXVIII


Puesto que hemos sido conducidos a hablar de los Rosa-Cruz, no será quizás inútil, aunque este tema se refiere a un caso particular más bien que a la iniciación en general, agregar a eso algunas precisiones, ya que, en nuestros días, este nombre de Rosa-Cruz se emplea de una manera vaga y frecuentemente abusiva, y se aplica indistintamente a los personajes más diferentes, entre los que, sin duda, muy pocos tendrían realmente derecho a él. Para evitar todas estas confusiones, parece que lo mejor sería establecer una distinción clara entre Rosa-Cruz y Rosacrucianos, donde este último término puede recibir sin inconveniente una extensión más amplia que el primero; y es probable que la mayoría de los pretendidos Rosa-Cruz, designados comúnmente como tales, no fueron verdaderamente más que Rosacrucianos. Para comprender la utilidad y la importancia de esta distinción, es menester primeramente recordar que, como ya lo hemos dicho hace un momento, los verdaderos Rosa-Cruz no han constituido nunca una organización con formas exteriores definidas, y que, a partir del comienzo del siglo XVII al menos, hubo no obstante numerosas asociaciones que se pueden calificar de rosacrucianas [1] , lo que no quiere decir en modo alguno que sus miembros fueran Rosa-Cruz; se puede incluso estar seguro de que no lo eran, y eso únicamente por el hecho de que formaban parte de tales asociaciones, lo que puede parecer paradójico e inclusive contradictorio a primera vista, pero que es sin embargo fácilmente comprehensible después de las consideraciones que hemos expuesto precedentemente.

La distinción que indicamos está lejos de reducirse a una simple cuestión de terminología, y se vincula en realidad a algo que es de un orden mucho más profundo, puesto que el término Rosa-Cruz, como lo hemos explicado, es propiamente la designación de un grado iniciático efectivo, es decir, de un cierto estado espiritual, cuya posesión, evidentemente, no está ligada de una manera necesaria al hecho de pertenecer a una cierta organización definida. Lo que representa, es lo que se puede llamar la perfección del estado humano, ya que el símbolo mismo de la Rosa-Cruz, por los dos elementos de los que está compuesto, figura la reintegración del ser en el centro de este estado y la plena expansión de sus posibilidades individuales a partir de este centro; por consiguiente, marca muy exactamente la restauración del «estado primordial», o, lo que equivale a lo mismo, el acabamiento de la iniciación a los «misterios menores». Por otro lado, desde el punto de vista que se puede llamar «histórico», es menester tener en cuenta el hecho de que esta designación de Rosa-Cruz, ligada expresamente al uso de un cierto simbolismo, no ha sido empleada más que en algunas circunstancias determinadas de tiempo y de lugar, fuera de las cuales sería ilegítimo aplicarla; se podría decir que aquellos que poseían el grado de que se trata han aparecido como Rosa-Cruz en esas circunstancias únicamente y por razones contingentes, como, en otras circunstancias, han podido aparecer bajo otros nombres y bajo otros aspectos. Eso, bien entendido, no quiere decir que el símbolo mismo al que se refiere este nombre no pueda ser mucho más antiguo que el empleo que se ha hecho así de él, e incluso, como para todo símbolo verdaderamente tradicional, sería sin duda completamente vano buscarle un origen definido. Lo que queremos decir, es sólo que el nombre sacado del símbolo no ha sido aplicado a un grado iniciático sino a partir del siglo XIV, y, además, únicamente en el mundo occidental; así pues, no se aplica más que en relación a una cierta forma tradicional, que es la del esoterismo cristiano, o, más precisamente todavía, la del hermetismo cristiano; volveremos más adelante sobre lo que es menester entender exactamente por el término «hermetismo».

Lo que acabamos de decir está indicado por la «leyenda» misma de Christian Rosenkreutz, cuyo nombre es por lo demás puramente simbólico, y en el que es muy dudoso que sea menester ver un personaje histórico, hayan dicho lo que hayan dicho algunos de él, sino que aparece más bien como la representación de lo que se puede llamar una «entidad colectiva» [2] . El sentido general de la «leyenda» de este fundador supuesto, y en particular los viajes que le son atribuidos [3], parece ser que, después de la destrucción de la Orden del Temple, los iniciados al esoterismo cristiano se reorganizaron, de acuerdo con los iniciados al esoterismo islámico, para mantener, en la medida de lo posible, el lazo que había sido aparentemente roto por esta destrucción; pero esta reorganización debió hacerse de una manera más oculta, invisible en cierto modo, y sin tomar su apoyo en una institución conocida exteriormente y que, como tal, habría podido ser destruida todavía una vez más [4] . Los verdaderos Rosa-Cruz fueron propiamente los inspiradores de esta reorganización, o, si se quiere, fueron los poseedores del grado iniciático del que hemos hablado, considerados especialmente en tanto que desempeñaron este papel, que se continuó hasta el momento donde, a consecuencia de otros acontecimientos históricos, el lazo tradicional del que se trata fue definitivamente roto para el mundo occidental, lo que se produjo en el curso del siglo XVII [5] . Se dice que los Rosa-Cruz se retiraron entonces a oriente, lo que significa que, en adelante, ya no ha habido en occidente ninguna iniciación que permita alcanzar efectivamente este grado, y también que la acción que se había ejercido a su través hasta entonces para el mantenimiento de la enseñanza tradicional correspondiente dejó de manifestarse, al menos de una manera regular y normal [6] .

En cuanto a saber cuáles fueron los verdaderos Rosa-Cruz, y a saber con certeza si tal o cual personaje fue uno de ellos, eso aparece como completamente imposible, por el hecho mismo de que se trata esencialmente de un estado espiritual, y por consiguiente puramente interior, del que sería muy imprudente querer juzgar según signos exteriores cualesquiera. Además, en razón de la naturaleza de su papel, estos Rosa-Cruz, como tales, no han podido dejar ningún rastro visible en la historia profana, de suerte que, incluso si pudieran conocerse sus nombres, sin duda no enseñarían nada a nadie; por lo demás, a este respecto, remitimos a lo que ya hemos dicho de los cambios de nombres, y que explica suficientemente lo que la cosa puede ser en realidad. En lo que se refiere a los personajes cuyos nombres son conocidos, concretamente como autores de tales o cuales escritos, y que se designan comúnmente como Rosa-Cruz, lo más probable es que, en muchos casos, fueran influenciados o inspirados más o menos directamente por los Rosa-Cruz, a los cuales sirvieron en cierto modo de portavoz [7] , lo que expresaremos diciendo que fueron sólo Rosacrucianos, sea que hayan pertenecido o no a alguna de las agrupaciones a las cuales se puede dar la misma denominación. Por el contrario, si se ha encontrado excepcionalmente y como por accidente que un verdadero Rosa-Cruz haya jugado un papel en los acontecimientos exteriores, eso sería en cierto modo a pesar de su cualidad más bien que a causa de ella, y entonces los historiadores pueden estar muy lejos de sospechar esta cualidad, hasta tal punto las dos cosas pertenecen a dominios diferentes. Todo eso, ciertamente, es poco satisfactorio para los curiosos, pero deben tomar su partido; muchas cosas escapan así a los medios de investigación de la historia profana, que forzosamente, por su naturaleza misma, no permiten aprehender nada más que lo que se puede llamar el «exterior» de los acontecimientos.

Es menester todavía agregar otra razón por la que los verdaderos Rosa-Cruz debieron permanecer siempre desconocidos: es que ninguno de ellos puede afirmarse nunca tal, como tampoco, en la iniciación islámica, ningún Ýûfî auténtico puede prevalerse de este título. En eso hay incluso una similitud que es particularmente interesante destacar, aunque, a decir verdad, no hay equivalencia entre las dos denominaciones, ya que lo que está implicado en el nombre de Ýûfî es en realidad de un orden más elevado que lo que implica el de Rosa-Cruz y se refiere a posibilidades que rebasan las del estado humano, considerado incluso en su perfección; en todo rigor, debería reservarse exclusivamente al ser que ha llegado a la realización de la «Identidad Suprema», es decir, a la meta última de toda iniciación [8] ; pero no hay que decir que un tal ser posee a fortiori el grado que hace al Rosa-Cruz y puede, si hay lugar a ello, desempeñar las funciones correspondientes. Por lo demás, se hace comúnmente del nombre de Sûfî el mismo abuso que del nombre de Rosa-Cruz, hasta aplicarle a veces a los que están sólo en la vía que conduce a la iniciación efectiva, sin haber alcanzado todavía ni siquiera los primeros grados de ésta; y, a este propósito, se puede notar que, no menos corrientemente, se da una parecida extensión ilegítima a la palabra Yogî en lo que concierne a la tradición hindú, de suerte que esta palabra, que, ella también, designa propiamente al ser que ha alcanzado la meta suprema, y que es así el exacto equivalente de Sûfî, llega a ser aplicada allí a aquellos que no están todavía más que en sus etapas preliminares e incluso en su preparación más exterior. Así pues, no sólo en parecido caso, sino incluso para el que ha llegado a los grados más elevados, sin haber llegado no obstante al término final, la designación que conviene propiamente es la de mutaçawwuf; y, como el Sûfî mismo no está marcado por ninguna distinción exterior, esta misma designación será también la única que podrá tomar o aceptar, no en virtud de consideraciones puramente humanas como la prudencia o la humildad, sino porque su estado espiritual constituye verdaderamente un secreto incomunicable [9] . Es una distinción análoga a esa, en un orden más restringido (puesto que no rebasa los límites del estado humano), la que se puede expresar por los dos términos de Rosa-Cruz y de Rosacruciano, distinción en la que este último puede designar a todo aspirante al estado de Rosa-Cruz, a cualquier grado que haya llegado efectivamente, e incluso si todavía no ha recibido más que una iniciación simplemente virtual en la forma a la que esta designación conviene propiamente de hecho. Por otra parte, de lo que acabamos de decir se puede sacar una suerte de criterio negativo, en el sentido de que, si alguien se ha declarado Rosa-Cruz o S ûfî, se puede afirmar desde entonces, sin tener necesidad de examinar las cosas más a fondo, que no lo era ciertamente en realidad.

Otro criterio negativo resulta del hecho de que los Rosa-Cruz no se ligaron nunca a ninguna organización exterior; si a alguien se le conoce como habiendo sido miembro de una tal organización, se puede afirmar también que, al menos en tanto que formó parte de ella activamente, no fue un verdadero Rosa-Cruz. Por lo demás, hay que destacar que las organizaciones de este género no llevaron el título de Rosa-Cruz sino muy tardíamente, puesto que no se le ve aparecer así, como lo decíamos más atrás, más que a comienzos del siglo XVII, es decir, poco antes del momento en que los verdaderos Rosa-Cruz se retiraron de occidente; y es incluso visible, por muchos indicios, que las organizaciones que se hicieron conocer entonces bajo este título estaban ya más o menos desviadas, o en todo caso muy alejadas de la fuente original. Con mayor razón la cosa fue así para las organizaciones que se constituyeron más tarde todavía bajo el mismo vocablo, y cuya mayor parte no hubieran podido reclamar sin duda, al respecto de los Rosa-Cruz, ninguna filiación auténtica y regular, por indirecta que fuera [10] , y no hablamos aquí, entiéndase bien, de las múltiples formaciones pseudoiniciáticas contemporáneas que no tienen de rosacruciano más que el nombre usurpado, que no poseen ningún rastro de una doctrina tradicional cualquiera, y que han adoptado simplemente, por una iniciativa completamente individual de sus fundadores, un símbolo que cada uno interpreta según su propia fantasía, a falta del conocimiento de su sentido verdadero, que escapa tan completamente a estos pretendidos Rosacrucianos como al primer profano que llega.

Hay todavía un punto sobre el que debemos volver para más precisión: hemos dicho que debió haber, en el origen del Rosacrucianismo, una colaboración entre iniciados a los dos esoterismos cristiano e islámico; esta colaboración debió continuarse también después, puesto que se trataba precisamente de mantener el lazo entre las iniciaciones de oriente y occidente. Iremos incluso más lejos: los mismos personajes, hayan venido del cristianismo o del islamismo, han podido, si han vivido en oriente y en occidente (y, aparte de todo simbolismo, las alusiones constantes a sus viajes hacen pensar que este debió ser el caso de muchos de entre ellos), ser a la vez Rosa-Cruz y Sûfîs (o mutaçawwufin de los grados superiores), puesto que el estado espiritual que habían alcanzado implicaba que estaban más allá de las diferencias que existen entre las formas exteriores, y que no afectan en nada a la unidad esencial y fundamental de la doctrina tradicional. Bien entendido, por eso no conviene menos mantener, entre Taçawwuf y Rosacrucianismo, la distinción que es la de las dos formas diferentes de enseñanza tradicional; y los Rosacrucianos, discípulos más o menos directos de los Rosa-Cruz, son únicamente aquellos que siguen la vía especial del hermetismo Cristiano; pero no puede haber ninguna organización iniciática plenamente digna de este nombre y que posea la consciencia efectiva de su meta, que no tenga, en la cima de su jerarquía, seres que hayan rebasado la diversidad de las apariencias formales. Esos podrán, según las circunstancias, aparecer como Rosacrucianos, como mutaçawwufîn, o en otros aspectos todavía; ellos son verdaderamente el lazo vivo entre todas las tradiciones, porque, por su consciencia de la unidad, participan efectivamente en la gran Tradición primordial, de la que todas las demás se derivan por adaptación a los tiempos y a los lugares, y que es una como la Verdad misma.
[1] Es a una organización de este género a la que perteneció concretamente Leibnitz; hemos hablado en otra parte de la inspiración manifiestamente rosacruciana de algunas de sus concepciones, pero también hemos mostrado que no era posible considerarle sino como habiendo recibido una iniciación simplemente virtual, y por lo demás incompleta inclusive bajo el aspecto teórico (Ver Los principios del cálculo infinitesimal).
[2] Esta «leyenda» es en suma del mismo género que las demás «leyendas» iniciáticas a las que ya hemos hecho alusión precedentemente.
[3] Recordaremos aquí la alusión que hemos hecho más atrás al simbolismo iniciático del viaje; por lo demás, sobre todo en conexión con el hermetismo, hay muchos otros viajes, como los de Nicolás Flamel por ejemplo, que parecen tener ante todo una significación simbólica.
[4] De ahí el nombre de «Colegio de los Invisibles» dado algunas veces a la colectividad de los Rosa-Cruz.
[5] La fecha exacta de esta ruptura está marcada, en la historia exterior de Europa, por la conclusión de los tratados de Westfalia, que pusieron fin a lo que subsistía todavía de la «Cristiandad» medieval para sustituirla por una organización puramente «política» en el sentido moderno de esta palabra.
[6] Sería completamente inútil buscar determinar «geográficamente» el lugar de retiro de los Rosa-Cruz; de todas las aserciones que se encuentran sobre este punto, la más verdadera es ciertamente aquella según la cual se «retiraron al reino del Prestejuan», no siendo éste otra cosa, como lo hemos explicado en otro parte ( El Rey del Mundo, pp. 13-15, ed. francesa), que una representación del centro espiritual supremo, donde se conservan efectivamente en estado latente, hasta el fin del ciclo actual, todas las formas tradicionales, que por una razón o por otra, han dejado de manifestarse en el exterior.
[7] Es muy dudoso que un Rosa-Cruz haya escrito nunca él mismo nada, y, en todo caso, no podría ser más que de una manera estrictamente anónima, puesto que su cualidad misma le impide presentarse entonces como un simple individuo que habla en su propio nombre.
[8] No carece de interés indicar que la palabra Sûfî, por el valor de las letras que lo componen, equivale numéricamente a el-hikmah el-ilahiyah, es decir, «la sabiduría divina». — La diferencia del Rosa-Cruz y del S ûfî corresponde exactamente a la que existe, en el Taoísmo, entre el «hombre verdadero» y el «hombre transcendente».
[9] Por lo demás, en árabe, ese es uno de los sentidos de la palabra sirr, «secreto», en el empleo particular que hace de ella la terminología «técnica» del esoterismo.
[10] Ello fue así verosímilmente, en el siglo XVIII, para organizaciones tales como la que se conoció bajo el nombre de «Rosa-Cruz de Oro».