sábado, 28 de fevereiro de 2009

I.N.R.I.

I.N.R.I.

"Os homens de todas as épocas são parecidos. A história não é tão útil por se encerrar nela o passado, como por se ler nela o futuro".J. B. Say

"Se não fosse as poeiras que ele ilumina, o raio de luz não seria visível". André Vide

Na câmara, onde os Cavaleiros Rosacruzes fazem seus trabalhos, há vários objetos e ornamentos para que se possam processar os rituais capitulares do Grau 18. Um deles é uma cruz ansata, com as letras I.N.R.I., alternadamente, em branco e preto, ao lado de um compasso e um esquadro, sobre uma mesinha triangular colocada entre o altar e a entrada do Oriente.

A sigla I. N. R. I. é usada como identificação entre os Cavaleiros Rosacruzes, e vem da própria iniciação do Grau com uma antiga máxima hermética Igne Natura Renovatur Integra! (O fogo renova a natureza inteira!). Ela aparece, também, quando o Cavaleiro é interpelado sobre a Verdade e ele responde que "a viu em Judéia, Nazaré, Rafael e Judá".

O I. N. R. I. de pronto nos leva a pensar em Jesus crucificado, em cuja cruz, sobre a sua cabeça, havia essa inscrição, querendo dizer: "Eis aqui o Rei dos Judeus!".

O Grau do Cavaleiro Rosacruz reflete, pois, a descida sobre nós de profunda tristeza e trevas. Quando em desespero, nós podemos nos dirigir a duas grandes forças motivadoras para nos salvar: a Razão e a Fé. A Razão trata daquilo que pode ser demonstrado, o que é tangível: a Fé vem de dentro de nós, o intangível. Isso é expressado pela Cruz e a Rosa. A Cruz tem sido um símbolo sagrado desde os primórdios da Humanidade: a Rosa significa a ressurreição. Daí um dos símbolos do Grau 18 ser uma Cruz encimada por uma Rosa. A flor da Rosa possui, também, a tripla conotação de Amor, Segredo e Fragrância, ao passo que a Cruz comporta, também, o triplo significado de Auto-sacrifício, Imortalidade e Santidade. Quando se tomam em conjunto esses dois emblemas, como sempre o estão no nome Rosacruz, indicam o Amor do Auto-sacrificio, o Segredo da imortalidade e a doce Fragrância de uma vida santa.

Como se vê, o Grau 18 tem muito a ver com Jesus, apesar de não haver restrição alguma sobre sua aplicação àqueles que não pertencem á fé Cristã. Ao centrado: Trata-se de um Grau de tolerância, convidando os homens de todas as crenças para encontrarem o enriquecimento espiritual.

A Regeneração Universal e o Segredo da (mortalidade constituíam a preocupação máxima dos alquimistas ligados á fraternidade dos Rosacruzes. Com a justaposição da Rosa na intersecção dos ramos da Cruz simbolizavam eles, como se entendeu das inscrições hieroglíficas encontradas no grande triângulo descoberto no templo de Benares, a junção dos dois sexos, que levada, afinal, ao Segredo da Imortalidade. A Rosa era o gracioso emblema da Mulher, a imagem da discrição e portanto o símbolo do "silêncio"; enquanto a Cruz, que para os filósofos herméticos era o símbolo da junção que forma a eclíptica com o equador, com os pontos de cruzamento em "Picies" e "Áries" e outro no centro da "Virgem", significava a virilidade do Sol em toda a sua força criadora. Dessa reunião resultaria a Regeneração Universal, ponto mais alto da doutrina secreta e de partida para a imortalidade.

O I. N. R. I. na Cruz de Jesus foi ditada através da sentença de Pôncio Pilatos:

"Eu, Pôncio Pilatos, aqui presidente do Império Romano, dentro do palácio da arqui-residência, julgo, condeno, e sentencio á morte a JESUS, chamado pela plebe de Cristo Nazareno, de pátria galileu, homem sedicioso da lei mosaica, contrário ao grande Imperador Tibério César.

Determino e pronuncio par esta, que sua morte seja em cruz, ficado com cravos, segundo a usança dos réus, parque aqui, congregando e juntando muitos homens ricos e pobres, não cessou de promover tumultos por toda a Judéia, dizendo-se Filho de Deus e Rei de Israel, ameaçando-os com a ruína de Jerusalém e do sacra templo, negando o templo de César, e havendo tido o atrevimento de entrar com ramos e triunfo, e com parte da plebe, na cidade de Jerusalém e no sacra templo.

Mando que se leve pela cidade de Jerusalém o Jesus Cristo, ligado e açoitado, e que seja vestido de púrpura e coroado de alguns espinhos, com a própria cruz nos ombros, para que sirva de exemplo a todos os malvados, e com ele sejam levados dois ladrões homicidas, e sairão pela porta Yagarda e que se leve Jesus ao pública Monte da Justiça, chamado Calvário, onde sacrificado e morto fique o corpo na cruz como espetáculo a todos os malvados, e sobre a cruz seja posto este titulo nas línguas hebraica, grega e latina: Jesus Nazarenus Rex Jurdeorum (I.N.R.I. ).

Ordeno ainda que ninguém de qualquer estado ou qualidade que seja, se atreva temerariamente a impedir esta justiça par mim determinada, a qual deve ser administrada e executada com toda o rigor e segundo os decretos e as leis romanas e hebraicas, sob pena de rebelião ao império Romano."

(Este documento apareceu publicada no "Jornal de Francfort", número 115,de 26 de abril de 1839 e achado em um vaso antigo, de mármore branca, quando se faziam escavações na cidade de Áquila, no reino de Nápoles, na ano de 1280.)

Diz-nos São João, confirmando:

"E eles tomaram a Jesus, e o tiraram para fora. 17 E levando a sua cruz às costas, saiu para aquele lugar que se chama Calvário, e em hebreu Gólgota. 18 Onde crucificaram e com ele outros dois, um de uma parte, outro de outra, e Jesus no mel. 19 E Pilatos escreveu também um titulo, e o pós sobre a cruz. E dizia a inscrição: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS. 20 E muitos dos judeus leram este título, porque estava perto da cidade o lugar onde Jesus fora crucificado. E estava escrito em hebraico, em grego e em latim. 21 Diziam pois a Pilatos os pontífices dos judeus: Não escreva rei dos judeus, mas o que ele diz: Eu sou o rei dos judeus. 22 Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi. " (JO 19,20)

Evidentemente, Rei Dos Judeus era um título de zombada, pois os seus adversários não queriam entender que sua realeza era doação e serviço. Jesus exercia sua realeza oferecendo o perdão a todos, realizando a reconciliação do homem com Deus e dos homens entre si. E nós estaríamos participando da realeza de Jesus na medida em que fôssemos capazes de perdoar e construir a paz e a reconciliação.

A turba que exigia a condenação a Jesus se sentia ameaçada. Para essa multidão, Jesus era um blasfemador e um perigo diante do poder religioso e civil. Mesmo dizendo que "seu Reino não era deste mundo", era preciso eliminá-lo. Mas Jesus é Rei! A sua Cruz tornou-se sinal de transformação, u'a mensagem de libertação. Ele é o nosso libertador. Liberta os homens, interiormente, de seus pecados e liberta a sociedade de todos os contravalores: poder, riqueza, mentira e opressão; e anuncia os valores do Reino: a solidariedade, a justiça, a verdade, a paz e a fraternidade. Assim, ele não é só Rei Dos Judeus, ele é Rei Do Mundo Todo!

Na verdade, I. N. R. I. é um tetragrama misterioso que encerra o significado secreto da palavra sagrada do Cavaleiro Rosacruz. Não se pronuncia tal palavra sagrada: é solicitada por meio de um interrogatório especial, em que o verdadeiro Rosacruz sabe encontrar duas vezes a palavra sagrada requerida. Alguns rituais atribuem a essas quatro letras o significado Iesus Nazarenus, Rex Iudeorum, mas o fato é que seu uso precede a era cristã e que entre os hebreus foram as iniciais dos nomes atribuídos aos quatro elementos primitivos da antiga física, também conhecidos dos antigos filósofos e por cuja prova ainda passam os iniciados de alguns ritos Maçônicos: I, de lammim = água; N, de Nur = fogo; R, de Ruahar = ar; e I, de labaschah = terra.

Quando os jesuítas adentraram nas assembléias dos Rosacruzes baccnianos, em Londres, com o fim de neutralizarem o fluxo dos modernos princípios filosóficos que começavam a inquieta-los, os ingleses não tiveram contemplação: expulsaram-nos. E eles foram estabelecer-se por conta própria.

Evidentemente, a confusão era a melhor arma, e, assim, apossando-se da quatro letras que constituíam a palavra sagrada dos Rosacruzes em todo mundo, I. N. R. I. , trataram de desvirtuar o sentido hermético, atribuindo-lhe uma significação que tinha o seu apoio na "Mônita", mas que não correspondia de maneira alguma ao sentido dos ingleses: "Jusum Necare Reges Impios" (É justo matar os reis ímpios), o que além do mais visava o Rei da Inglaterra!

A Mônita Secreta foi redigida pelo próprio Ignácio de Loyola (1491 - 1556), em colaboração com Jacopo Laynez, um psicólogo muito sagaz. Tratava-se de uma organização com método próprio de ação sem o que os Jesuítas pouco conseguiriam, pois era preciso velar e ter coesão nos embates. Daí a elaboração pelos primeiros Jesuítas da cana de ação privada, que é a Mônita Secreta. Era o credo esotérico de combate, traçado para uso apenas dos iniciados. Disso resultou o fato de terem os seus ditames permanecido no mais sepulcral dos sigilos por várias décadas. É prodigioso o papel que o Jesuitismo desempenhou em defesa da Igreja Romana e, inclusive, contra a Maçonaria.

Qual era então o verdadeiro significado do tetragrama na filosofia Rosacruciana? Haviam diversos, mas todos num sentido diferente daquele que lhe atribuíam os filhos de Santo Ignácio. Por exemplo, entre os sírios e pensas, era Igne Natura Renovatur Integra e também Ignem Natura Regenerando Integrat, (É pelo fogo que a natureza se renova), alusão ao símbolo astronômico do Sol, ou ao símbolo físico da vida. Entre os alemães, o sentido filosófico era mais profundo: Igne Nitrum Roris Invenitur, tirado de um aforismo dos filosóficos herméticos. Realmente, substituindo-se as iniciais do tetragrama pelas suas correspondentes em língua hebraica verifica-se que os Rosacruzes alemães aludiam, diretamente, aos quatro elementos dos antigos: lammim, o elemento água; Nur, o elemento fogo; Ruahar, o elemento ar; e labaschah, o elemento terra. Na França, os Rosacruzes davam-lhe uma interpretação menos filosófica e mais política: Indefeso Nisu Repellamus Ignorantiam (Por uma ação infatigável destruiremos a ignorância), enquanto que os ingleses, mais sóbrios, davam-lhe um significado que era a aspiração de todos os povos do Universo: Justitia Nunc Regent Imperia (A justiça regerá as nações).

O Rosacrucianismo dos Jesuítas só foi tentado na Inglaterra e, assim mesmo, com insignificante sucesso. O terreno era agreste e faltava aos semeadores o bafo fecundante sem o qual não podiam germinar as suas idéias suspeitíssimas. O temperamento dos ingleses, o seu amor à liberdade e o sentimento de orgulho, que cultivavam em larga escala quanto ao direito da livre expressão do pensamento, eram outros entraves ao progresso da causa jesuítico. Assim mesmo, não fosse o diabo tecê-las, os discípulos de Roger Bacon (1222-1292), criaram u'a nova interpretação para o tetragrama, que, sem fugir á boa hermenêutica rosacruciana, respondia admiravelmente ao capcionismo dos filhos de Santo Ignácio: Jesuitae Nacionum Regunque (Os jesuítas são os inimigos dos povos e dos reis).

Os significados para a sigla I. N. R. I não param ai: outros devem ter e outros poderão advir, pois apercebe-se que ela já se tomou mística e a imaginação do homem não limites. E quando algo dessa natureza está envolta também de mistérios, mulas surpresas nos reservam. Daqui a algum tempo, possivelmente, documentos guardados por outras sociedades darão outras interpretações para o tetragrama I. N. R. I... Esses documentos, provavelmente, existem com acesso somente aos iluminados de tais organizações. Ao contrário do que alguns querem fazer crer, nem tudo foi destruído...

Apesar de não glorificado nas datas festivas e memoráveis da Maçonaria Simbólica, em suas sessões rituais e em suas instruções aos neófitos, não podemos deixar de reconhecer Jesus Cristo como um dos esteios da Ordem, um iniciado e um mestre.

Considerando os exemplos de virtudes maçônicas, como Amor ao próximo, a Caridade,. a Tolerância, que a Ordem adotou, é incompreensível que o nome daquele que nos serve como modelo seja mantido no esquecimento, numa típica atitude de ingratidão e injustiça.

Ir.: Espedicto Figueiredo

Fonte: Masonic

A ROSA - SÍMBOLO DE PSICOLOGIA ESPIRITUAL?


Por: Jean-Pierre Clainchard
Coordenador da Seção de Psicologia da Universidade Rose + Croix Internacional, URCI

Durante muitas décadas no curso deste vigésimo século, pode-se dizer que de modo geral psicologia e espiritualidade foram vistas como antinómicas. Jung, porém, colocou em evidência a importância da dimensão espiritual como fator de evolução do ser humano, que é um ser em devenir, com real capacidade de transformação. Mas reconheçamos que na França Jung foi pouco compreendido, e que a maior parte dos ensina mentos da psicologia nas universidades francesas perma nece fortemente marcada pelo pensamento materialista, o que aliás, vai inteiramente contra o fenômeno da retomada de interesse pela espiritualidade; fenômeno com que encontramos faz vinte a trinta anos e que deceria cumprir seu papel de pôr a questão em dência em muitos campos.

Falar de psicologia espiritual é ter em conta,de modo global, a dimensão espiritual do ser no quadro dq abordagem psicológica. Portanto, não se trata apenas de se interessar pela primeira infância, a infância, psico-afetiva ou a esfera profissional indivíduo, mas também de se ter em conta a era espiritual ou o despertar espiritual, com as qualidades psíquicas relacionadas, como por exemplo a intuição, e com toda a simbologia que expressa, através dos sonhos, do corpo físico (simbologia corporal), do corpo psíquico (psico-energético), certos eventos interiores e certas enfermidades significativas. É também ter em contar os elementos da sombra em nós, isto é, os elementos negativos de nosso Eu, os elementos que representam um problema e que devem ser reconhecidos e canalizados, para serem depois transmutados - é o caso da agressividade ou da passividade que devem ser reconhecidos como tal conscientemente, posto que devem ser transmutados ao longo dos anos em uma energia positiva disponível para outra coisa. E é também integrar os fenômenos que fogem ao ordínário e que levantam questionamentos, como as experiências PES, as visões místicas, a sincronicidade, a memória de vidas anteriores, etc. - Tudo isto faz parte da alquimia interior.

Como disse o Dr. Jacques Vigne, “o que diferencia a psicologia espiritual é a experimentação pessoal: as observações são feitas mergulhando-se na própria psique, coisas que os sábios vêm praticando há milhares de graças à meditação e as outras técnicas de expansão da consciência. Para eles, cada ser humano é seu próprio laboratório para explorar seus próprios estados interiores. Isto não é uma questão ou de fé questão, de experiência...”

Para nós ocidentais, hão se trata de rejeitar, digamos assim, a psicologia clássica, convencional, que desenvolveu bastante o aspecto analítico, mas de inscrevê-la numa perspectiva espiritual que desenvolva o aspecto mais intuitivo e metafórico. Em outras palavras, trata-se de conciliar em nós o analítico e o intuitivo.

Freud, em sua obra, trabalhou bastante na estruturação do Ego, insistindo no papel da primeira infância, etc. Jung, por outro lado, aprofundou suas pesquisas na evolução do Ego rumo ao Eu. Em alquimia mental e em psicologia espiritual, sabemos que é essencial que haja um Ego bem estruturado de onde a importância da infância e da adolescência e sabemos também que a partir desse Ego bem estruturado pode se dar uma evolução de boa qualidade rumo ao Eu.

Os místicos aspiram à realização desse Eu, e a psicologia espiritual se interessa muito particularmente por esse campo. O Eu é o que há de mais elevado em nós e representa na verdade a Imago Dei que todo ser humano possui em seu íntimo, o reino de Deus dentro de nós, Como constatou o psiquiatra Adler, do ponto de vista psicológico o Eu pode ser considerado como a experiência de Deus em nós, de certo modo o Deus do nosso coração. Ele constitui o que podemos chamar de a mais alta intensidade de vida.

E é através da ampliação progressiva do campo da consciência que nosso Ego pode tender ao Eu cósmico, sendo a experiência última a reintegração da alma no Uno. E é essa ampliação que os rosacruzes realizam, aprendendo a desenvolver em si mesmos a consciência cósmica.

Abordaremos neste artigo três pontos simbólicos concernentes à rosa, de um ponto de vista psico-espiritual.

I A Rosa Como Símbolo do Desejo Espiritual de Realização do Eu

A jornada interior pode ser simbolizada pelo desabrochar da rosa na cruz. A rosa é considerada como um dos símbolos desse processo de mudança, dessa transmutação alquímica, mas outros símbolos, como o diamante, a flor de Iótus, a criança interior, a esfera dourada, a luz branca, são também exemplos de símbolos do Eu. Podemos encontrá los nos sonhos espirituais nos grandes mitos da humanidade, em alguns contos infantis tradicionais, como também nos manuscritos alquímicos ou ainda, por exemplo, nas cartas do Tarô iniciático.

Alertamos, porém, que não é suficiente sonhar com símbolos maravilhosos para que se seja um Realizado: os símbolos do Eu, as situações arquetípicas, devem ser considerados sobretudo como um encorajamento e uma expressão do desejo de ir mais longe; não é o fim do processo, mas na verdade um novo começo para uma nova volta da espiral.

Do mesmo modo, podemos dizer que uma experiência de despertar, como uma visão mística, não é O Despertar. E simplesmente uma experiência de despertar, um encorajamento para a senda ou uma arrancada na evolução. A rosa em seu desabrochar, com suas diferentes pétalas, pode então traduzir esse desejo, mostrando que novas tarefas devem ser empreendidas.

II - A Rosa Como Símbolo do "Saber Dar" e do "Saber Receber"

A rosa pode ser apreendida como um magnífico símbolo de harmonização entre o "saber dar" e o "saber receber". Um bom número de escritores já insistiu nessa necessidade de equilibrar em nós o saber dar e o saber receber, e entre esses podemos citar Jung, Maslow, Stanislas Grof, Annick de Souzenelle, entre outros. Esse equilíbrio resulta de um movimento harmonioso de uma aliança entre esses dois componentes, movimento que constitui uma dinâmica entre o exterior e o interior de nós mesmos. Em nossa vida cotidiana, não façamos a partilha do "saber dar" e do "saber receber". Por exemplo, não há uma hora de "saber dar" seguida de uma hora de "saber receber",

Nossa psique é constituída, de uma energia masculina e uma feminina. A energia masculina representa nossa capacidade de ação no mundo físico: pensar, falar, mover-se, etc. Para o homem, como para a mulher, é a energia masculina que permite o agir: é a emissividade, a função emíssiva, e o “saber dar" participa deste processo de emissividade.

A energia feminina representa nossa porção mais intuitiva, essa porção interior que pode se abrir à inteligência suprema do universo. Para o homem, como para a mulher, é a receptividade, a função receptiva, e o "saber receber" participa deste processo de receptividade.

De um modo esquemático, podemos dizer que o processo criativo traduz-se assim: o aspecto feminino recebe a energia criadora universal e o aspecto masculino a exprime no mundo pela ação; isto é parte da nossa alquimia mental e espiritual.

Se tomarmos o símbolo da rosa, poderemos nos dar conta de que este símbolo possui um núcleo central de onde emanam as pétalas. Ania Teillard psicóloga, observou que tudo se passa como se neste símbolo da rosa houvesse, ao mesmo tempo, uma reunião em torno do ponto central e uma irradiação estelar emanando do centro:

- Por um lado, as energias vindas do exterior, que passam pelas diferentes pétalas e que são reunidas no centro da rosa, representam de certo modo nosso "saber receber" - do exterior para o interior, o fenômeno da interiorização.

- Por outro lado, as energias que partem do interior, do centro da rosa, e se difundem através das pétalas irradiando-se para o exterior, representam de certo modo nosso "saber dar" - do interior para o exterior, o fenômeno da exteriorização.

Tudo isso representa simultaneamente a concentração interior e a união com o mundo exterior. A mesma coisa participa também do processo de evolução individual e coletivo. Temos necessidade de ambos: do "saber receber" e do "saber dar". Talvez seja útil recordar em que consistem esses dois conceitos.

1 - O "Saber Receber"

Nem todo mundo sabe receber ou estar em receptivídade. Sylvie Galland e Jacques Salomé, psicoterapeutas, dizem que "reagimos como doentes do receber e, numa relação de longa ou de curta duração, muitas são as situações em que temos receio de receber "

Receber presentes, palavras agradáveis, elogios, sinais de amor - pode parecer incrível, mas há muitas pessoas que não suportam essas atenções. Os autores citados acima colocaram a seguinte questão: a visão que temos de nós mesmos é tão severa, tão exigente, que não podemos aceitar o reconhecimento daquilo é?

Mas receber é também receber as evidências, as opiniões diferentes, as proposições novas e até perturbadoras. A maioria dos seres humanos funciona com uma atitude defensiva; muitos dizem não pegar para si aquilo que lhes parece desconhecido; poucos estão realmente abertos às diferenças, o que explica bem os problemas das nossas sociedades contemporâneas que se caracterizam às vezes pela intensidade de sua intolerância. A falta de tolerância é um modo ancestral, um fechamento, um bloqueio da energia do receber.

2 - O "Saber Dar"

Assim como podemos estar doentes do "saber receber", do mesmo modo podemos, estar doentes do 'saber dar". Assim como a rosa pode receber a luz e o calor do sol sem reservas, do mesmo modo esta rosa pode dar seu perfume, sua irradiação, desinteressadamente e sem ficar privada do quer que seja.

Há prazer no saber dar, mas esse prazer não é algo calculado nem uma troca de bons procedimentos, e menos ainda uma estratégia. O saber dar não põe em relevo o sofrimento e o sacrifício, ele revela uma forma de amor. Na vida cotidiana, é freqüente se ouvir frases como: `E dizer que sacrifiquei dez anos de minha vida a tal causa, a tal ideal, a tal pessoa..." Aí não está a dádiva, o amor, mas o dever, e na psicologia moderna conhecemos bem os limites do dever. O dever nada tem a ver com o amor. Ora, é importante ter em mente que tanto no "saber dar" como no "saber receber" o prazer desempenha seu papel. Prazer de dar como prazer de receber, e vice-versa...

E isso pode ser feito muito naturalmente, como no exemplo da rosa que recebe calor e luz, e dá seu perfume e irradiação. O equilíbrio no cotidiano achase talvez nessa proporção, nessa adaptação com flexibilidade do "saber dar" e do "saber receber" que se faz simultaneamente.

O que dissemos da rosa, podemos aplicar ao símbolo da Rosa-Cruz. A cruz é qualquer parte da nossa vida cotidiana, isto é, um conjunto de experiências a serem vividas, com o braço vertical simbolizando a espiritual idade, o horizontal simbolizando a materia lidade, e o ponto de encontro onde floresce a rosa, o desabrochar do ser. Podemos agora retomar os conceitos do "saber receber" e do "saber dar", pois material e espiritualmente recebemos do exterior elementos, informações, energias que vêm circular ao longo dos braços da cruz para se concentrarern no núcleo essencial que é a rosa; e inversamente, da rosa emana todo tipo de irradiações que vão se difundir ao longo dos, braços da cruz, ressoando em nossa vida espiritual e material.

Não nos esqueçamos também que o que é válido para o funcionamento do indivíduo é igualmente válido para o funcionamento de um conjunto de indivíduos, podendo esse conjunto ser um grupo, uma nação e, por que não, todo o planeta. Se nosso planeta não vai atualmente muito bem, talvez seja por ele ter perdido o senso da proporção.

III - A Rosa Como Símbolo da Abertura do Coração

O que vamos abordar agora está completamente ligado ao que foi dito anteriormente: trata-se do que chamamos a abertura do coração, elemento essencial num caminho iniciático.

Na Rosa-Cruz, a rosa está no centro da cruz, isto é, no ponto do coração do Cristo. Angelus Silesius, místico do século XVII, autor de uma obra intitulada O Peregrino Querubínico, fez da rosa a imagem da alma, como também do Cristo.

Mantenhamos, então, essa imagem da rosa, símbolo, entre outros, da abertura do coração... e mais particularmente da explicação simbólica da imagem do iniciado carregando um botão de rosa, que não deseja outra coisa além do desabrochar, como se o iniciado, em sua jornada interior, tivesse feito assomar em si o essencial. Esse essencial passa em verdade pela via do coração e a regeneração do Ser interior. O coração pode ser considerado como símbolo central dessa via, pois indica quanto,é importante para o homem saber amar a todos os níveis de seu ser, sendo o Amor Cósmico o nível mais elevado. Saber amar abre muitas portas, e num dos livros secretos dos gnósticos do Egito havia esta expressão significativa: Vós, os Filhos do Conhecimento do Coração.

O centro cardíaco é um dos 7 centros psíquicos maiores. Lembremo-nos que, conforme recomendam os ensinamentos rosacruzes, é preferível não se polarizar excessivamente nesse ou naquele centro psíquico, pois é mais natural que o despertar, ou mais precisamente o redespertar, desses centros se faça de modo harmonioso, na exata medida em que se realiza a evolução espiritual. Do mesmo modo, as qualidades psíquicas, correspondentes aos centros psíquicos, despertam progressivamente. Os 7 centros psíquicos têm todos sua importância e seu desenvolvimento deve ser harmonioso, a fim de que a circulação energética possa ser feita normalmente de baixo para cima e de cima para baixo.

O centro cardíaco ocupa, entretanto, um lugar interessante no plano dos 7 centros psíquicos. De cima para baixo ele é o 42, de baixo para cima é também o 4º Alguns falam dele como sendo o primeiro centro altruísta. Sua localização mediana, à meia-distância entre a parte de baixo e a de cima, confere-lhe um papel especial, pois a abertura do coração, como se costuma dizer, favorece o desenvolvimento dos outros 3 centros superiores e tem uma ação aquietadora e harmonizadora sobre os outros 3 centros inferiores são esses 3 centros inferiores que estão talvez exacerbados em nossa sociedade de hiperconsumismo e de hiperaglomeração emocional e especular.

É possível que a abertura do coração desenvolva o desejo espiritual de se ter uma relação mais íntima com a alma. É possível que ela permita ao homem compreender melhor a natureza do amor.

Podemos acrescentar também que quanto mais adentramos na luz cósmica, mais somos iluminados no interior de nosso ser, e mais desejamos ajudar os outros e compartilhar com eles essas bases de compreensão, de conhecimento e de revelação mistica que integramos em nós. De fato, quanto mais essa comunhão cósmica se dá, mais podemos amar e ajudar naturalmente e sem esforço da vontade pessoal, pois ajudar com esforço da vontade pessoal denuncia algo do conceito de poder.

Auxiliamos os outros na qualidade de transmissores, como canal psíquico e espiritual. A abertura do coração, isto é, essa rosa que aos poucos se abre simbolicamente em nós, nos ensina a bondade interior. Esse desenvolvimento, pelo fato de estar carregado de amor, vai muito além do mero desenvolvimento intelectual. Ele tende a uma evolução mais profunda do ser, que proporciona uma expansão do campo da consciência e às vezes uma hiperconsciência - uma hiperconsciência transitória mas, ainda assim, uma hiperconsciência - como também um desejo espiritual de comunhão interior, e é esta comunhão interior que permite que se tome consciência do sentimento de universalidade e de unidade.

Não é então de se admirar que, a despeito de todo seu conhecimento, alguns cientistas passem longe da sua verdade: eles trabalham tão somente com a cabeça.

Ora, reconhecemos essa simplicidade do coração, esse calor interior, na tradição mística ocidental. A rosa e a cruz, através de seus diversos sentidos simbólicos, nos propõem manter, tão intactas quanto possível, essas qualidades da via do coração, mesmo no decorrer de experiências difíceis e talvez até mais ainda durante elas. Os rosacruzes sabem muito bem que vivenciar isto é parte do campo da iniciação. As experiências a serem vivenciadas podem ser individuais ou coletivas, mas todas devem ser consideradas significativas, ou seja, plenas de sentido.

E o conjunto das experiências, por um lado cotidianas, com seu quinhão de alegrias e sofrimentos para cada um, e por outro lado místicas e espirituais, pode conduzir afinal à experiência fundamental da luz interior, e com isto a aceitação plena e inteira do Plano Divino.

Há um adágio que diz: Ao te engajares num caminho, pergunta-te se esse caminho tem um coração. Não se trata, claro, do coração fisico e nem do coração afetivo e emocional, mas do coração enquanto centro de integração de certas faculdades espirituais, esse coração centro do ser.

No limiar da Era de Aquário, sentimos, na psicologia espiritual, que o homem deve se reconciliar com seu coração. A inteligência sem coração, a ciência sem consciencia, nos levaram à situação planetária atual, com nossas sociedades a um só tempo muito analíticas e muito emocionais na superfície mas muito frias na profundidade. A abertura do coração pode dar um sentido e uma outra visão às descobertas da inteligência navida cotidiana, e o coração purificado, no sentido alquímico da expressão, torna-se capaz de ver aquilo que é em sua essência.

E como disse o poeta, numa visão muito idealista: Que é um coração puro senão aquele olho capaz de contemplar todas as coisas sem projeção, sem transferência com aquela qualidade da inocência que faz com que o mundo nele se reflita como sobre água límpida...

Paralelamente a esta visão poética, podemos recordar a explicação de Mircéa Eliade sobre o simbolismo, que ele considera como um dado imediato da consciência total, quer dizer, do homem que se descobre como tal, do homem que toma consciência de sua posição no universo; essas descobertas primordiais são tais que o próprio simbolismo determina simultaneamente a atividade do subconsciente e as mais nobres expressões da senda espiritual.

Um Triângulo

Vimos assim 3 pontos simbólicos concernentes à rosa numa abordagem psico-espiritual; portanto, um triângulo com:

1ª ponta: a rosa como símbolo do desejo espiritual de realização do Eu,

2ª ponta: a rosa como símbolo do saber dar e do saber receber,

3ª ponta: a rosa como símbolo da abertura do coração.

Três pontos simbólicos que favorecem o sentimento de unidade. Três em Um - sentimento de unidade que pode ser traduzido também pela rosa no centro da cruz.

- Sentimento de unidade no Eu, com a harmonização dos diferentes componentes do nosso ser.

- Sentimento de unidade com os que vivem o mesmo ideal místico, e quanto a isto conhecemos o papel desempenhado pela Egrégora.

- Sentimento de unidade com os que estão na busca espiritual, de uma maneira geral.

- Sentimento de unidade com o conjunto da humanidade, com a qual somos solidários no nível das alegrias e das tristezas.

E um dia, sentimento de unidade com o infinito...

A unidade através do Amor e do Conhecimento auxilia no estabelecimento de novos valores.

É a tudo isso que nos convida o símbolo da rosa que irradia no sentido espiritual do termo, mas também no sentido psicológico, com as mudanças de valores e de comportamento que ela acarreta no mundo do pensamento; e, claro, no sentido cotidiano, com as aplicações práticas,' concretas, pragmáticas, na vida de todo dia. Portanto, uma irradiação nos três planos - espiritual, psicológico e cotidiano.

Conclusão

Pode-se dizer que a senda espiritual e também a psicologia profunda a que nos referimos, isto é, a que leva em consideração a dimensão espiritual, introduzem o conceito de jornada interior. Cada um tem em si uma parcela da imensidão cósmica, da infinitude, e da busca da harmonia possível com o Cósmico. A jornada interior consiste nos encontros consigo mesmo, no casamento alquímico interior, na unificação, efetuando um circuito completo que, como Ulisses, nos conduz ao nosso ponto de partida, mas com uma consciência muito maior e com as múltiplas experiências que terão balizado nossasvidas sucessivas como etapas necessárias.

A senda iniciática é uma imensa jornada de Amor, tal como a empreenderam todos os alquimistas, e somos todos, como diz a Ordem, alquimistas espirituais. E um imenso poema de Amor pela vida, nessa busca pelo Absoluto, uma jornada através dos planos de consciência, das estrelas também - por que não? - através do cotidiano que se torna nosso verdadeiro laboratório, para descobrir passo a passo a realidade crística do Amor e da Luz. Algo semelhante ao que disse Jacob Boehme quando afirmou que somos de natureza terrestre e que no âmago dessa natureza terrestre havemos de descobrir nossa existência celeste.

Sócrates e depois Platão, cada qual em sua época, ansiaram por estimular os homens a fim de revelar neles os traços de conhecimentos acumulados ao lori,go da jornada da alma, de modo que esses conhecimentos pudessem servir como fonte interior da verdade. A tradição iniciática, como fizeram Sócrates, Platão e muitos outros, apoia-se no fato de que as fontes de sabedoria, de amor e de conhecimento se ocultam nas profundezas do ser, e que são elas que se desenvolvem da maneira mais significativa, desde que lhes seja permitido expressarem-se totalmente. No mundo da psicologia contemporânea, numerosos são os que, aos poucos, admitem essa realidade, e cujas tentativas de modelos psicológicos e psicoterapêuticos de visão espiritual buscam, responder às nossas necessidades modernas.

Edouard Schuré, em 1889, autor do livro Os Grandes Iniciados, escreveu o seguinte no capítulo sobre Pitágoras: "Será esta, segundo nós, a tarefa de fazer com que se venha a render às faculdades transcendentes da alma humana sua dignidade e sua função social, reorganizando-as com o auxílio sobre bases universais, abertas a todas as a ciência regenerada, de olhos alcançará essas esferas onde a filosofia vagueia de olhos vendados e tateando. Sim, a ciência se tornará clarividente e redentora, na medida em que nela crescerão a consciência e o amor a humanidade".

A ciência com consciência e não mais a ciência sem consciência.

Então, a rosa, cuja importância histórica não requer maiores provas, permanece um autêntico símbolo da maior consciêncía de ser e do ensinamentos espiritual.

E o que melhor se pode desejar para a humanidade do século XXI do que esperar vê-ia ampliar do que vê-la de consciência e sua capacidade de amor?

Uma última imagem simbólica para encerrar: nos manuscritos alquímicos dos séculos passados, a foi muitas vezes denominada Flor dos Sábios, seus casamentos místicos a rosa vermelha era atribuída ao Rei e a rosa branca à Rainha. Retenhamos em nossos pensamentos esta imagem da rosa como dos Sábios e como símbolo da abertura da consciência.

A consciência é uma questão de qualidade e nao, s de quantidade de técnica conhecida, e a Flor do Sábios se reconhece, claro, por sua qualidade...

Fonte: Revista O Rosacruz – 2º TRI - 1995


AS TRIBULAÇÕES DA VIDA



Robert E. Daniels, F.R.C.

O fardo da vida freqüentemente nos oprime duramente, destruindo a harmonia e a paz de nossa mente ou consciência, trazendo ansiedade, preocupação e, às vezes, desespero. Essas tribulações, embora difíceis de suportar, são muitas vezes necessárias, visto que em nosso desejo de coisas importantes na vida, causamos uma reação interior. A tribulação parece um contratempo, mas na realidade constitui uma oportunidade de aprendermos uma lição importante e removermos um obstáculo à consecução que desejamos.

Estamos tão acostumados a culpar outras pessoas das nossas dificuldades, de nossos problemas, que não percebemos que o nosso Carma pessoal está nos ensinando uma valiosa lição, necessária no momento. Se conseguirmos enxergar para além de nossa frustração, veremos a sabedoria do Cósmico atuando em nosso favor, ainda que estejamos feridos.

Por conseguinte, provocamos os nossos próprios problemas com o nosso desejo de melhorar. Isso parece paradoxal, mas é exato. Entretanto, nossos pensamentos negativos durante os períodos de prova tornam a experiência mais difícil de suportar. Se, porém, permitíssemos que a nossa consciência se harmonizasse intimamente, de modo que o Eu Interior pudesse expressar-se, perceberíamos mais claramente a Sabedoria presente em nossas tribulações cotidianas.

Ao harmonizarmos nossa consciência todos os dias, por meio da meditação, com a Divina Consciência Universal em nosso âmago, permitirmos que as Forças Espirituais guiem nossa vida e nossas atividades. Então, o amor, a lei que torna todas as coisas possíveis, permitirá entendermos nossas ocasionais tribulações como um aspecto do divino desabrochar que está ocorrendo em nosso interior.

Fonte: amorc

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Rosacruz e Portugal

No dia 17 de Maio desloquei-me até ao Bombarral onde, numa nova livraria chamada "Caneta Azul", cumpri a minha missão de apresentar o livro "A Rosacruz e Portugal", do meu caro amigo Delmar Domingos de Carvalho, autor de inúmeras obras de investigação e ensaios. Esta foi a segunda apresentação do livro, que foi lançado oficialmente numa outra cerimónia a que também assisti e que teve lugar no Convento de Cristo, local bastante focado no próprio livro pela sua temática templária.

Não sou, de facto, um estudioso profundo do tema Rosacruz, mas as minhas leituras em áreas que o tocam, como o estudo das religiões, do esoterismo, da história, do templarismo, etc, levaram o Delmar a fazer-me este convite que muito me honrou, até porque foi já a segunda vez que apresentei um livro seu, depois de "A Flor da Esperança" (Hugin Editores), há uns valentes anos atrás.

Quanto ao livro, aconselho claro que o leiam. Fala de uma forma leve e não demasiadamente profunda, para que os leigos da matéria possam perceber o que lá está escrita, das relações entre a filosofia da escola de pensamento Rosacruz e a história de Portugal, a forma como esta terá influenciado alguns dos nossos grandes vultos culturais, sociais e políticos, e também de que forma está presente nos nossos monumentos.

Mas, acima de tudo, é um livro que fala de valores universais que se vão perdendo com o tempo. Os tais valores que, segundo a teoria do Quinto Império, irão ajudar a criar um dia esse reino de paz, harmonia e cultura que apregoaram o Padre António Vieira, Bandarra, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.

Um tema a estudar, sem dúvida. A bem de cada um de nós e do mundo.

Fonte: My Space Luis Costa Pires

A influência das idéias rosa-cruzes sobre o desenvolvimento da Europa


Entrevista com o Dr. Carlos Gilly


Professor Gilly, baseando-se nos fatos que o senhor coletou, o senhor poderia demonstrar que a riqueza das idéias rosa-cruzes teve uma influência positiva sobre o desenvolvimento da Europa?

Resposta: O primeiro manifesto rosa-cruz surgiu na Alemanha, em 1614. Seu título era: Fama Fraternitatis. Sob o título, podia-se ler: "Reforma geral e universal do mundo inteiro". Nenhum outro texto reformador, no decorrer dos quatro últimos séculos teve uma ressonância tão grande entre seus contemporâneos como a Fama Fraternitatis da Venerável Ordem dos Rosa-Cruzes, dirigida a todos os sábios e soberanos da Europa. Quase oito anos depois, cerca de trezentos escritos foram impressos, combatendo ou aceitando o fenômeno "Rosa-Cruz" da parte de círculos muito diferentes entre si. Teólogos de todo tipo de obediência religiosa, médicos da velha escola de Galeno e da nova escola de Paracelso, os discípulos mais conservadores de Aristóteles e dos adeptos da filosofia hermética, alquimistas, astrólogos, juristas, escritores políticos e literários, todos tomaram da palavra apaixonadamente para atacar ou defender a invisível Fraternidade e suas idéias de regeneração de todos os valores e de todos os princípios da religião, da sociedade e da ciência. E isto não somente na Alemanha, mas também na Inglaterra, na Holanda, na França, na Itália, na Boêmia e na Suécia. Logo toda a Europa se encontrou envolvida no debate sobre os rosa-cruzes. Em seu primeiro manifesto, o que se considerava como ideológico tornou-se evidente para a cultura européia: a tolerância em matéria de religião, por exemplo, a fé no progresso, o fato de compreender que a experiência tem mais valor que a autoridade e a especulação, a busca de um equilíbrio entre o pensamento e a ação em todos os aspectos da vida.


Graças à nova cátedra de Ciência Hermética de Amsterdã, o senhor espera que apareçam outros pontos de vista na ciência e em outros setores, no que diz respeito ao pensamento rosa-cruz?

Resposta: A cátedra de Filosofia Hermética da Universidade de Amsterdã corresponde à realização final de um desejo muito antigo. Ninguém menos do que Marcílio Ficino ocupou a primeira cátedra de hermetismo na Europa. A irradiação desta cátedra foi tão extraordinária que Theodor Zwingler, de Basiléia, um dos maiores eruditos do século XVI escreveu: "Percebe-se o quanto nossa 'Republica Literaria' deve à Academia platônica de Florença e a seu criador, Cosme de Médicis, pelo fato de que em nosso tempo, quando a mais grosseira barbárie penetrou e manchou toda a ciência, o latim e o grego estão revivendo, e que a Academia de Florença é a primeira a instaurar o estudo de uma filosofia mais pura, trazida das fontes platônicas e herméticas. Graças aos membros desta academia, podemos agora praticar a filosofia com liberdade e elegância". Nas universidades do século XVI e XVII, onde a doutrina de Aristóteles ainda dominava, esta influência foi pouco sentida. Por isso, as ciências herméticas foram constrangidas a levar uma existência obscura, à parte. O fato de terem criado uma nova cátedra de Hermetismo exatamente em Amsterdã não surpreende quem conhece bem a história desta cidade. No século XVII não havia universidade em Amsterdã, mas havia um editor muito "engajado" que editou não somente o Corpus Hermeticum na tradução de A. W. Beyerland, mas também as obras de Jacob Boehme, Comenius, Breckling e outros teósofos, místicos, milenaristas e outros sábios em ciências herméticas e buscadores de Deus. E no que diz respeito aos rosa-cruzes, foi em 1615 que a Fama Fraternitatis foi impressa em Amsterdã. De toda a Europa, os partidários da Rosa-Cruz vinham até Amsterdã. Portanto, não é surpresa para ninguém que as quatro grandes coleções existentes de textos rosa-cruzes (em Gotta, Hall Breslau e Wolfenbuttel) venham de Amsterdã.

Em minha opinião, é principalmente na cabeça daqueles que não enxergam o lugar verdadeiro dos antigos hermetistas e "filósofos da natureza" – os pesquisadores científicos da época, com seu entusiasmo e dedicação – que existe um conflito entre as ciências herméticas e as demais ciências. Mas um conflito como este jamais existiu para aqueles que conhecem os ensaios matemáticos e físicos do autor da Fama Fraternitatis ou as atividades alquímicas de Newton.


Este aspecto aparecerá claramente na bibliografia que a Bibliotheca Philosophica Hermetica está para publicar?

Resposta: A bibliografia sobre os rosacruzes, de 1604-1800, contém aproximadamente 1500 edições, manuscritos e documentos de arquivos classificados por ordem cronológica e acompanhados de comentários. O critério reservado a um texto como este é a menção expressa da palavra "Rosa-cruz" pelos partidários ou adversários. Todos os textos são apreciados da mesma maneira, tanto os que tratam de teologia, como os que tratam de medicina, alquimia, astrologia, política ou de outra coisa qualquer.

Esta enorme coleção de textos vai-nos mostrar também, assim esperamos, como é complexa a história da ciência; como as opiniões sobre o progresso das ciências estão sempre se modificando, e como o papel de partidário ou adversário pode ser desempenhado pela mesma pessoa, alternadamente. Graças à intervenção dos rosa-cruzes e das correntes que deles provieram, nós adquirimos uma compreensão muito profunda sobre a vida cultural e religiosa de um período bastante agitado da Europa.


Quais são os movimentos rosa-cruzes de hoje que, segundo o senhor, estão mais de acordo com as fontes e com a mensagem dos manifestos? Até que ponto eles seguem a tradição, adaptada à nossa época?

Resposta: Como toda corrente histórica, a Rosa-Cruz também sofreu algumas transformações. Os autores dos manifestos e seus amigos também foram, naturalmente, filhos de seu tempo. Seus críticos se voltavam para a dogmática que estava em vigor nas doutrinas religiosas e teorias científicas que não eram baseadas em experiências espirituais pessoais ou sobre investigações científicas. A Fama Fraternitatis evocava essencialmente a necessidade do equilíbrio entre fé e vida, conhecimento e experiência, teoria e prática. É por isso que o autor se inspira na filosofia hermética, na mística da Idade Média, na alquimia e até mesmo na magia que ressalta a interação direta entre o homem como microcosmo e o macrocosmo. Os irmãos da Cruz Áurea, que se reagruparam na Itália por volta de 1675 (os "Áureos e Rosa-Cruzes" como se auto-denominaram depois de 1710, na Alemanha) encarregaram-se da mensagem, mas esqueceram-se dos manifestos originais. Quando eles editaram a Fama Fraternitatis em sua revista de 1783, este texto tinha se tornado tão desconhecido que inúmeros associados acreditaram que se tratasse da criação de uma nova sociedade secreta e se inscreveram como sócios. Mas, felizmente, havia também adeptos e simpatizantes da Rosa-Cruz que ainda conheciam as origens da Ordem. Um deles foi o compilador e editor de "Os Símbolos Secretos dos Rosa-Cruzes". Eles não estavam inteiramente satisfeitos com os textos da Cruz Áurea e traduziram em sua língua não somente a Fama Fraternitatis, mas também textos de Paracelso, de Arndt, de Weigel e de Jacob Boehme. Nesta situação, surgiu uma transformação quando os manifestos originais foram editados em inglês pela "Societas Rosacruciana", em 1887. Seguiu-se uma série ininterrupta de edições em todas as línguas possíveis. Desde 1900, foram impressas 50 edições da Fama Fraternitatis e da Confessio Fraternitatis e cerca de uma vintena das Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreuz.

Quanto à questão de saber qual organização atual que leva o nome "Rosa-Cruz" seria a mais próxima da fonte, eu prefiro não me pronunciar. Como historiador, minha tarefa é somente encontrar as fontes, ordená-las historicamente e despojá-las da pátina ocultista e não histórica com que o mito rosa-cruz foi revestido, principalmente nos séculos XVII e XVIII. Deste ponto de vista, as organizações que seguiram através dos tempos os ideais de Tobias Hess, de J. V. Andreae, de J. Arndt, de Jacob Boehme e de seus amigos são as mais próximas do rosacrucianismo clássico.


Para os autores dos manifestos tratava-se apenas de uma reforma, ou também de uma transformação do homem em si?

Resposta: Para os autores – ou seja, Andreae, Tobias Hess e seus amigos do círculo de Tübingen – tratava-se das duas coisas. A "Reforma" do mundo exterior à qual eles aspiravam somente seria possível se o homem se transformasse interiormente. Andreae esboça magnificamente esta transformação interior nas Núpcias Alquímicas de C.R.C. antes mesmo de escrever a Fama e a Confessio Fraternitatis. Esta "Reforma geral do mundo" não era, entretanto, de ordem política, como sugeriram, aos brados, algumas publicações subversivas durante a Guerra dos Trinta Anos. Tratava-se, na verdade, de uma "reforma" do espírito, que Tobias Hess já havia declarado em 1605 em uma carta dirigida ao duque de Wurtemberg.


Como os manifestos puderam ser editados sem que os autores o quisessem ou soubessem?

Resposta: Parece que, para começar, Tobias Hess e seus amigos quiseram enviar aos sábios da Europa a Fama Fraternitatis traduzida em cinco línguas, com a Confessio em latim. Mas, antes mesmo de começar as traduções, antes do momento julgado favorável para sua publicação, eles tiveram de perceber que já circulavam inúmeras cópias, recopiadas precisamente por um dos que a Fama qualifica de pseudo-alquimista. Portanto, o elemento surpresa sobre o qual contavam os autores dos manifestos desapareceu com a resposta impressa de Adam Halsmayr, em 1612. Foi necessário, então, levar em consideração uma edição ilegal da Fama. Em março de 1614, ela surgiu também em Kassel.

Por que Tobias Hess e seus amigos não impediram este processo previsível editando os manifestos na hora certa? Isto continua sem resposta, pois ainda faltam fontes de informação. Entretanto, ficou estabelecido que quem deu a ordem para lançar a primeira edição da Fama e da Confessio, o landgrave Wilhem de Hesse e o impressor da corte, Wilhem Wessel, não tinham a menor idéia da origem dos manifestos.


Quais são os indícios que lhe permitem dizer que deve ter havido outros manuscritos antes da impressão do primeiro livro? Como o senhor descobriu que eles existiam e onde o senhor os encontrou?

Resposta: Os quatro manuscritos da Fama que foram encontrados não eram realmente desconhecidos no momento em que iniciei minhas pesquisas. Um se encontrava desde 1903 no catálogo dos manuscritos da biblioteca do duque Augusto, em Wolfenbutel; outros dois eram mencionados no catálogo de 1962 da Welcome Library de Londres. Mas, tal como fora o caso com inúmeros textos de Adam Halsmayr, nenhum pesquisador havia se dado ao trabalho de pesquisar esses manuscritos. O manuscrito de Salzburgo, que fazia parte dos bens de Christoph Besold, um amigo de Andreae, já havia sido examinado em 1929, em Breslau, por Will Erick Peuckert, o grande historiador dos rosa-cruzes. Na ocasião, ele o considerou "sem valor". Trata-se aqui do único manuscrito da Fama em que aparecem todas as passagens suprimidas em outros manuscritos e sobretudo nas edições impressas.


Andreae ou algum de seus amigos haviam indicado, alguma vez, que estes manuscritos existiam?

Resposta: Andreae e seus amigos acabavam de saber que devia haver cópias ilegais da Fama em 1612, quando surgiu a "Resposta à Fraternidade dos teósofos da Rosa-Cruz" de Adam Halsmayr e, mais tarde, desde o final de junho do mesmo ano, quando o príncipe Augusto de Angalt, precisamente junto com Tobias Hess, procurou se informar a respeito do assunto da Confessio Fraternitatis. Certamente Andreae tinha ouvido falar, por Benedictus Figulus, sobre as transcrições que circulavam em Kassel, Marburg e Estrasburgo. É somente assim que se pode explicar porque Andreae se irritou tanto sobre o "globe-trotter Figulus", mesmo trinta anos mais tarde, em sua biografia! Se entretanto tudo tivesse se passado como Andreae queria, é bem provável que os manifestos jamais tivessem sido editados. Devemos agradecer a Adam Halsmayr e a Benedictus Figulus por fazerem um uso amplo de suas cópias imperfeitas.


Por que é importante que o texto original da Fama seja editado? Já existe uma versão impressa de J. V. Andreae?

Resposta: Dos quatro documentos impressos, não há um sequer que não apresente alguma omissão. Umas oito páginas estão faltando, infelizmente. Em todos os manuscritos faltam as mesmas páginas que faltam na primeira edição de Kassel. Sem variante na língua, eles remetem a uma única cópia que, certamente, foi feita às pressas e estava prematuramente em circulação fora do círculo de Tübingen. Com a recente edição da Fama Fraternitatis, de Pleu van der Kooij, agora já temos um texto que é completo e de onde desapareceram as inúmeras variações e erros de leitura. Este texto é autêntico, pelo menos enquanto não for encontrado nenhum outro manuscrito do círculo de Tübingen. Faltam somente as oito páginas. Mas o que foi descoberto pela Bibliotheca Philosophica Hermetica no setor de pesquisa sobre a Rosa-Cruz dá esperança para novas pesquisas.


Como o senhor explica o enorme interesse que os manifestos provocam desde 1900?

Resposta: O século XVIII, o "século das luzes", oferece inúmeros aspectos, entre os quais um aspecto rosa-cruz. Os princípios das "luzes" tiveram origem, sem dúvida, em Andreae, Arndt, Comenius, Breckling e Gottfried Arnold. Não nos referimos tanto ao livro conhecido de Frances Yates ["O Iluminismo Rosa-Cruz"]. O século XIX, apesar de inventivo, permaneceu estreito no plano filosófico. A ciência estava voltada exclusivamente para a técnica; e as religiões mostravam-se racionais. A religião parecia envelhecida. É por esta razão, sem dúvida, que inúmeros pesquisadores voltaram-se para o pensamento oriental, enquanto outros "redescobriram" e perpetuaram, na verdade pela mesma razão, a longa tradição do hermetismo europeu. Nesta tradição, a Rosa-Cruz desempenhou um papel extraordinário. De fato, nos manifestos, todos os aspectos que no decorrer dos séculos foram taxados de heréticos e combatidos como tais (aspectos herméticos, gnósticos, místicos ou alquímicos) se reuniram.


De onde provém seu interesse pela Rosa-Cruz? O senhor tornou-se o maior especialista da história Rosa-Cruz (pois todos conhecem este traço do fundador da Bibliotheca Philosophica Hermetica). O que levou o senhor a empreender esta imensa pesquisa?

Resposta: Sou espanhol e há muito tempo fui morar na Suíça. Na Basiléia estudei a história dos dissidentes religiosos da Espanha do século XVI que moravam no exterior. Em seguida, estudei os livros de autores espanhóis publicados fora da Península Ibérica. Percebendo que os dissidentes espanhóis mais importantes, depois de sua separação da igreja romana, entraram muito rapidamente em conflito com as igrejas reformadas e foram tratados como heréticos, comecei a me interessar por todos os outros "heréticos" do período da Reforma. E principalmente Paracelso, cujas obras foram impressas por este editor que tinha editado não somente os livros de alquimia da Espanha, mas também uma grande quantidade de livros de Sebastian Castellio, o grande defensor da tolerância religiosa. Foi assim que encontrei as obras de Theodor Zwingler e Johannes Arndt, que faziam a ligação entre Castellio e Paracelso, e que também influenciaram J. V. Andreae – e, portanto, os rosa-cruzes. No círculo de amigos de Andreae, encontrei também o prolongamento das idéias que me interessavam e sobre as quais pouco ainda se havia escrito. Foi assim que foi-se abrindo o caminho para o estudo da Rosa-Cruz.

A ocasião direta foi, entretanto, a tarefa de recensear a edição italiana de "O Iluminismo Rosa-Cruz", este belo livro de Frances Yates, sugestivo mas discutível sob o ponto de vista histórico. Deste recenseamento nada surgiu, pois ele foi-se tornando tão volumoso que, no final, poderia ter surgido uma nova história dos rosa-cruzes. Compreendi que um projeto como este somente poderia ser concretizado através de uma pesquisa aprofundada em inúmeros arquivos e bibliotecas. Provisoriamente, eu me contentei em dar uma conferência na Associação Histórica da Basiléia, sob o título "Os rosa-cruzes, fracasso de uma reforma no século XVII". Foi assim que entrei em contato pela primeira vez com Joost Ritman. Ele pediu que eu me tornasse bibliotecário da Bibliotheca Philosophica Hermetica. O resto, todos conhecem. Depois de ter trabalhado sem parar nesta biblioteca, nesta coleção única de edições e manuscritos dos rosa-cruzes do século XVII, coloquei em microfilmes, em mais de 120 bibliotecas, cerca de 1800 obras e documentos relacionados com os rosa-cruzes dos séculos XVII e XVIII. Este material está descrito e comentado na bibliografia sobre a qual já falei. Ela logo será apresentada, primeiro sob a forma de livro, depois com documentos, na Internet. Nesta bibliografia está expressa, em toda a sua amplitude, a história dos rosa-cruzes e dos movimentos que suscitaram suas idéias. Como já disse, ela nos oferece uma imagem muito detalhada da vida cultural e religiosa de um período conturbado da história européia. A aspiração à perfeição e à harmonia entre o homem, o cosmos e a natureza – assunto que é tratado expressamente nos manifestos rosa-cruzes – mostra-se tão atual que pode inspirar, hoje, os pensamentos de muitos homens.


(revista Pentagrama, ano 21, nº. 2.)

IDEOLOGIA

Imagem: Nicolas Roerich - Abode of Gesar -1947


Saudações Rosacruzes!

Está claro ao bom observador que o nosso mundo passou de um dogma religioso para um dogma econômico. Hoje, o “sistema” comanda nossas vidas. Você já percebeu o caos quando você chega a um local em que o “sistema” está fora do ar? Nos últimos meses, as fortes quedas das bolsas em todo o mundo geraram tanta confusão nos mercados que os governos dos países ricos, defensores do capitalismo livre e sem interferência do Estado obrigaram-se a intervir para salvar organizações de grande porte e evitar um colapso da economia mundial. Trilhões de dólares foram investidos para socorrer os bancos e empresas em crise. O mercado ganhou status de Instituição.


Para recuperar as economias, no atual modelo, a solução é aumentar o consumo, então as receitas sugeridas são de aumentar o crédito para que as pessoas possam consumir mais, para que a economia mundial possa ser salva. Reverbera em nossa consciência a necessidade de a humanidade rever suas prioridades. Para onde estamos indo? Será que em algum momento refletiremos sobre a impossibilidade do crescimento ao infinito, como supõe uma economia dita “saudável”? Onde ficam as pessoas e os valores humanos nessa equação? Será este o paradigma ideal?

Preconizando a crise econômica mundial, no 4º Manifesto Rosacruz, o Positio Fraternitatis Rosae Crucis, está escrito: “No tocante à economia, consideramos que ela está completamente à deriva. Todo mundo pode constatar que ela condiciona cada vez mais a atividade humana e é cada vez mais normativa. Hoje em dia ela assume a forma de redes estruturadas muito influentes e, portanto, dirigistas, quaisquer que sejam suas aparências. Por outro lado, mais que nunca ela funciona a partir de valores determinados que se pretende quantificáveis: custo de produção, limiar de rentabilidade, avaliação do lucro, duração do trabalho, etc. Esses valores são consubstanciais com o sistema econômico atual e lhe fornecem os meios de alcançar os fins que persegue. Infelizmente, esses fins são fundamentalmente materialistas, porque baseados no lucro e no enriquecimento excessivo. Assim é que se chegou a colocar o Ser Humano a serviço da economia, quando essa economia é que deveria ser colocada ao serviço do Ser Humano.

Em nossos dias, todas as nações são tributárias de uma economia mundial que se pode qualificar como totalitária. Esse totalitarismo econômico não corresponde às mais elementares necessidades de centenas de milhões de pessoas, ao passo que as massas monetárias nunca foram tão colossais no plano mundial. Isto significa que as riquezas produzidas pelos homens só beneficiam uma minoria deles, o que deploramos. De fato, constatamos que a defasagem não cessa de se ampliar entre os países mais ricos e os países mais pobres. Pode-se observar o mesmo fenômeno em cada país, entre os mais desprovidos e os mais favorecidos. Consideramos que assim é porque a economia se tornou especulativa demais e porque ela alimenta mercados e interesses que são mais virtuais que reais”.

Parece-nos que as ideologias ditam os ideais e, sem refletir, o mundo procura por um “sucesso” que quando alcançado pergunta-se: - e daí?

O grego Aristóteles em sua Ética a Nicômaco, afirma que nascemos para ser felizes. Será possível neste modelo?

Até a próxima Semana!
Que assim nos ajude Deus!

Hélio de Moraes e Marques
Grande Mestre

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

LINHAGENS MARTINISTAS - clique na imagem

O QUE É UM INICIADO?


por Papus

Uma das causas mais freqüentes da obscuridade aparente dos estudos de Ciência Oculta diz respeito à confusão dos termos empregados por aqueles que tratam dessas questões. É, então indispensável bem definir primeiro as palavras que se empregam, sob pena de cairmos no erro que acabamos de indicar. Poucos termos prestam-se mais a confusão do que aquele de Iniciado. Uns consideram o Iniciado como o ser excepcional, designado com veneração por todos os autores do Ocultismo; outros encaram o termo com uma significação bem menos elevada e que se pode aplicar de uma maneira geral.

Basta reportarmos-nos a significação primitiva dessa palavra para verificar que a última acepção é a mais correta. Com efeito, o título de Iniciado na Antigüidade indicava simplesmente um homem instruído, cujos graus de instrução variavam segundo os casos, sem que o título geral de Iniciado sofresse a mínima modificação.

O Iniciado nos pequenos mistérios possuía uma instrução equivalente àquela dada em nossos dias pela Universidade; o Iniciado nos grandes mistérios aprendia a manejar as grandes forças ocultas da Natureza. Chegado ao ápice dessa instrução, ele adquiria o título de vidente, de profeta ou de Adepto.

Assim, Iniciado ou Adepto são os dois termos que designam respectivamente o começo e o apogeu da carreira de Ocultista. Todos os homens instruídos adquiriam, na Antigüidade, o título de Iniciados e os títulos de filho da mulher, filho da Terra, filho dos deuses, filho de Deus (*), designando sua elevação hierárquica na ordem dos conhecimentos humanos.

Sem querer nos aprofundar sobre o ensinamento que eles recebiam, falemos, entretanto, de um ponto muito importante. A doutrina ensinada, era, sobretudo, sintética e a pesquisa da Unidade Universal lhes era indicada como o objetivo de seus esforços. De outro lado, os Iniciados aprendiam a adaptar o ensinamento aos temperamentos diversos dos povos que eles eram encarregados de organizar como legisladores. É por isso que vemos as leis de Orfeu, de Moisés, de Licurgo, de Sólon, de Pitágoras serem tão diferentes em aparência, enquanto que todos esses homens adquiriram seus conhecimentos numa mesma Fonte. A perda desses dados conduz nossos legisladores contemporâneos à ruína e à subjugação das nações que eles querem organizar, todas sobre a mesma base.

O povo possuía, então, uma religião ou uma organização social, com relação absoluta ao seu próprio temperamento, e que era um excelente meio de torná-lo feliz; o homem instruído, ao contrário, sabia convictamente que não existia senão uma religião, e que todos os cultos eram adaptações, como as cores são aspectos diversos de uma única luz branca.

Assim, a guerra religiosa era quase totalmente desconhecida na Antigüidade, pois nenhum homem inteligente poderia sequer pensar em tal possibilidade; o povo, tão somente, seria capaz dessas infantilidades.

A sociedade antiga aparece-nos, agora, com todo o esplendor de sua organização unitária e compreendemos porque o Iniciado podia entrar em todos os templos e sacrificar a todos os deuses, em comunhão com os sacerdotes de todos os cultos, que o reconheciam como um filósofo da unidade, assim como eles próprios. Os ignorantes sectários, que pretendem hoje em dia falar de religião, proclamam a esse respeito o politeísmo, sem compreender que os cristãos de hoje parecem, ao pesquisador ingênuo, mais politeísta do que os membros de qualquer outra seita.

Imaginemos, com efeito, um homem instruído, mas ignorante de nossos costumes religiosos, que subitamente fosse convidado a fazer um estudo a esse respeito, não possuindo como dados senão monumentos. Veja se suas conclusões não seriam essas: " A Religião desses povos curiosos parece consistir principalmente na adoração de um velho, de um supliciado e de uma pomba. Todos seus templos apresentam essas imagens. Eles adoram, além disso, vários deuses que se encontram sobre seus altares sob os nomes de São José, São Luís, etc.. Além disso, eles oferecem sacrifícios de flores recém-desabrochadas à uma divindade que parece ser aquela da natureza e que eles chamam Maria. Encontram-se, também, várias imagens de animais sobre seus altares, um cachorro, ao lado de um deus inferior, São Roque, e, mesmo, um porco, acompanhando um outro deus, Santo Antônio. Existem, também, cervos, cordeiros, etc.. Eles parecem ter particularmente adorado esse animal, que seguidamente representam deitado sobre um livro ".

Essas conclusões nos fazem rir e balançar a cabeça. O que diria, com efeito, um Iniciado do mundo antigo, instrutor de Moisés ou de Pitágoras, acusado pelo sábio contemporâneo de adorar batatas ou crocodilos!

O argumento do politeísmo e da idolatria não prova senão uma coisa: é a ignorância ou a má-fé daqueles que o empregam. O papel do Iniciado do mundo antigo era, antes de tudo, social; os Iniciados formavam, no mundo inteiro, uma fraternidade de Inteligência unida por uma doutrina unitária.

É essa Fraternidade que certas sociedades secretas têm como objetivo mais ou menos delineado de reconstituir. Mas esse objetivo e esses estudos não têm para nós senão um interesse secundário. A Antigüidade, por atraente que seja seu estudo, não incitaria tanto nossa atenção como nossa sociedade atual. É nela, que devemos ver agora o Iniciado.

Digamos, inicialmente, que é muito fácil ser um Iniciado. Basta, para isso, conhecer os dados mais elementares da Ciência Oculta e compreender, graças a ela, a necessidade imperiosa de união fraternal de todos os homens. Esses dados podem ser obtidos pelo trabalho pessoal ou pelas sociedades de Iniciação. Isto exige algumas palavras adicionais de explicação.

Se foi bem compreendida a diferença capital que atribuímos aos termos de Iniciado e de Adepto, é fácil deduzir que se pode, até certo ponto, formar Iniciados, mas não se formam Adeptos. Esses homens, cada vez mais raros, só chegam ao Adeptado por suas próprias forças. O objetivo inicial de uma sociedade de Iniciação é indicar aos seus membros, da melhor maneira possível, o caminho do aperfeiçoamento espiritual, que deve ser realizado pelo esforço individual. A doutrina ensinada deve versar sobre a fraternidade, fonte de todos os desenvolvimentos posteriores do ser humano.

Na prática, a sociedade deve envidar todos os seus esforços para realizar, entre seus membros, o objetivo que ela persegue, para fazer de cada um deles um apóstolo militante e, após, um verdadeiro Iniciado. Dois grandes procedimentos são empregados para o ensino da Iniciação; esses procedimentos, diferenciando particularmente as escolas de Iniciação de fonte oriental daquelas de origem ocidental, indicam facilmente a origem de um centro oculto.

A Iniciação oriental opera, sobretudo, pela meditação, isto é, o objetivo sendo de fazer criar, para cada indivíduo, sua doutrina sintética, sua maneira de ver o Universo e sua constituição. A Iniciação oriental dá ao seu discípulo um texto bastante curto e sintético sobre o qual ele deve meditar longas semanas, ou mesmo meses. O resultado dessa meditação é de livrar pouco a pouco os princípios analíticos contidos no texto e de criar uma doutrina fazendo-a, por assim dizer, sair de si mesma.

A Iniciação ocidental procede de maneira diferente. Ela dá, inicialmente, ao seu discípulo, uma série de dados sobre a questão, a serem pesquisados e meditados longamente, impelindo-o a condensar todas as opiniões e idéias diversas num resumo sintético.

Das duas maneiras, chega-se ao mesmo resultado: a Iniciação oriental ampliando um texto sintético e a Iniciação ocidental condensando textos analíticos, obtendo uma síntese geral. Digamos, enfim, que certas sociedades praticam, ao mesmo tempo, esses dois procedimentos, escalonando-os gradualmente. De qualquer maneira, o primeiro e, mesmo, o único objetivo procurado, é de levar o aluno a criar sua própria doutrina.

Pouco importa, inicialmente, que essa doutrina seja, em todos os detalhes, excelente ou não. O essencial é que ela exista. A sociedade dando as bases gerais ao Iniciado evita erros fundamentais. O Iniciado tendo uma criação pessoal, modifica-a posteriormente, segundo seus estudos e sua evolução interior.

Constata-se, dessa maneira, a inanidade dos ensinamentos dados pelas sociedades, que perderam totalmente essa base indispensável e que quiseram praticar a fraternidade universal sem criar, em primeiro lugar, homens capazes de compreender seu alcance. Tais sociedades não tardam a transformar-se num corpo político, tendendo à dissolução, desde que não retorne energicamente ao seu objetivo primitivo, por uma rápida reorganização.

A utilidade social dos Iniciados é incontestável; basta imaginar a grandeza possível das gerações futuras se a unidade se realiza. Certas sociedades procuram agir sobre as massas para chegar a essa unidade, cuja necessidade pressentiram. As sociedades de Iniciação, ao contrário, dirigem-se às inteligências menos numerosas, e mais capazes de compreender a nobreza da fraternidade universal.

O dia em que o padre católico, tornado Iniciado, souber receber em sua Igreja, como um igual, o Iniciado ortodoxo, o Iniciado muçulmano e o Iniciado budista, a fraternidade dos povos estará bem mais perto de realizar-se na prática. Esse dia está, talvez, muito longe; quem sabe, ao contrário, ele se aproxima mais rapidamente do que pensamos. Seria temerário esperar essa união dos povos?

É possível que esse ideal seja utópico, inatingível; entretanto, nesta época de positivismo exagerado, é consolador viver esse sonho da união dos Iniciados, realizando um pouco a união universal de todos os homens na paz e na harmonia.


Nota:

* Saint-Yves D'Alveydre: La Mission des Juifs, Paris, Ed. Traditionnelles, 1972, 2 vol.

Orden de los Caballeros Martinistas



Llamada posteriormente Colegio de los Caballeros Martinistas, y actualmente Colegio del Templo del Hombre.

Si mencionamos esta Orden es porque entra dentro, en una de las dos orientaciones, de una intención y unos ritos resueltamente Martinistas. Sin embargo, toma poco a poco una orientación más ligada con el esoterismo y la caballería.

Esta orden fue fundada en 1980 por Pierra Crimetz, entonces principal responsable de la Orden Martinista Tradicional. Devino Soberano Gran Maestro mientras que su esposa devino Gran Maestra.

El nacimiento de esta Orden causó un gran clamor en el seno de la O.·.M.·.T.·. y de A.·.M.·.O.·.R.·.C.·. de la que Pierre Crimetz era uno de los altos dirigentes desde hacía muchos años. La O.·.M.·.T.·. estaba en cierta época bajo la dirección de Raymond Bernard, Legado Supremo para Europa y de Christian Bernard, Gran Maestro para Francia. Parece que el Legado Supremo estuvo ligado a la creación de esta Orden, aunque ningún texto oficial lo estipula. Citamos un extracto del folleto hablando sobre los inicios de esta Orden: “P. Crimetz contactó en 1980 con un alto responsable del dominio tradicional de la caballería (...). Recibió el jueves 23 de Octubre de 1980 una iniciación de alto grado, a partir de la cuál fue proclamado Fundador de la Orden de los Caballeros Martinistas. Esta ceremonia se desarrolló en un templo tradicional y auténtico en alguna parte de Europa. Durante esta ceremonia, el iniciador ofició en tanto que representante de la Tradición Primordial. Una veintena de Superiores Desconocidos han asistido a este acontecimiento excepcional en el dominio tradicional...”

Contrariamente a las tradiciones Martinistas, ninguna filiación es mencionada, ningún lugar preciso, ninguna reseña. Una característica sobre la caballería sí que se menciona, pero no se precisa más.

Dejando de lado la naturaleza de la filiación Martinista, podemos preguntarnos sobre la filiación caballeresca. Podríamos pensar que se trata de una caballería espiritual sin origen histórico. Sin embargo, si ese fuera el caso, es preciso reconocer que puede perfectamente ser respetable y seria, aunque diferente de la que podría ser por filiación histórica.

Hemos sugerido los problemas que conoció la Orden en sus inicios. Se encontraba efectivamente acreditada y sostenida por el Legado Supremo de la O.·.M.·.T.·., R. Bernard, entonces Gran Maestro. C. Bernard, permanece, respecto a todo esto, en silencio. Una carta fue enviada a las Héptadas de la O.·.M.·.T.·. por el Legado Supremo explicando la dimisión de P. Crimetz en estos términos: “... Tengo el deber de informaros que nuestro querido hermano Pierre Crimetz abandona hoy su función y sus actividades en el seno de la Orden Martinista Tradicional para continuar su obra en otros servicios para el bien de la tradición. Su esposa, nuestra querida hermana Andrea Crimetz, también se va para asistirle en su tarea...”. Algunos, pocos, comprendieron, pero una parte de la O.·.M.·.T.·., miembros y dirigentes iniciaron una campaña de calumnias muy eficaz. Raymond Bernard fue obligado a redactar una segunda carta para calmar los ánimos.

La agitación de la O.·.M.·.T.·. no se calmó más que poco a poco, con el paso del tiempo. Las calumnias desaparecieron a gran escala. Al principio, en efecto, la O.·.M.·.T.·. tomó partido por aquél que encarnaba la mística tradicional y ello perturbó enormemente a los hermanos que vacilaban en seguir en el nuevo Orden. El tiempo de duda fue utilizado para contrarrestar este impacto y conservar el máximo de miembros.

Hemos querido insistir sobre las grandes líneas de esta creación para demostrar como una Orden puede constituirse y evolucionar. Algunos años después de su fundación la Orden cambia de expresión y toma el nombre de “Colegio de los Caballeros Martinistas”, para un tiempo después abandonar la expresión Martinista y devenir en el “Colegio del Templo del Hombre”. Remarquemos la asociación de conceptos entre la tradición Templaria y el nombre de una obra de Schwaller de Lubicz: “El templo del hombre”, correspondiente a un estudio muy personal del templo de Luxor, donde aparece una dimensión egipcia.

Intentemos mientras dar las grandes características de su enseñanza durante el periodo en el que la Orden tenía aun su denominación Martinista.

Durante los tres años que siguieron a su creación, los diversos ritos iniciáticos y de grupo eran próximos a aquellos practicados en la Orden Martinista Tradicional. La evolución de la orden acentúa el carácter caballeresco.

A nuestro entender el trabajo en la Orden se efectuaba en este momento de tres formas:

1º- a) Por la recepción de manuscritos de enseñanza tradicional elaborados por el Soberano Gran Maestro sobre los siguientes temas: El Martinismo, la Cábala, el simbolismo, la historia esotérica, la caballería,... Estos textos son dentro del conjunto mucho más serios y profundos que aquellos de la O.·.M.·.T.·. sin ser demasiado ortodoxos desde el punto de vista de la doctrina Martinista.


b) Por la recepción de manuscritos elaborados por el Gran Maestro concernientes al “arte de vivir” y que tratan de hecho de los problemas actuales y cotidianos de la vida de pareja.

2º- Por el trabajo en oratorio. Los manuscritos del Soberano Gran Maestro son leídos a los miembros. Conciernen a los mismos temas que por correspondencia. Un ejercicio místico es seguidamente practicado por el grupo antes de debatir los conocimientos adquiridos. Todo esto con los mismos inconvenientes que hemos anotado antes sobre la O.·.M.·.T.·..

3º - Por el trabajo desde los retiros: Los miembros son invitados a retirarse en la sede de la Orden para efectuar unos retiros de dos a tres días. En ellos los miembros reciben una enseñanza oral del Soberano Gran Maestro sobre temas operativos. Según la Orden se trata de prácticas Martinistas. Los miembros que hayan completado estos retiros siguen las enseñanzas en su oratorio privado y envían informes de sus trabajos. Precisemos que estos retiros están escalonados en grados, permitiendo franquear las iniciaciones de la Orden hasta el grado de caballero.

Esta práctica fue una especie de innovación dentro de las Órdenes esotéricas modernas y permite un conjunto serio de trabajos para los miembros en su domicilio. Es preciso reconocer sin embargo el freno indirecto derivado de estos retiros desde el punto de vista financiero. Según los textos que hemos consultado la enseñanza operativa es poco Martinista. Se trata de ritos de la Golden Dawn inglesa. Recordamos que la Golden Dawn es una orden mágica inglesa fundada sobre una práctica activa de la Cábala.

Concluimos el estudio de esta Orden con una carta que nos ha sido dirigida por su Soberano Gran Maestro en respuesta a la presentación que hemos hecho de su Orden. La reproducimos textualmente:

“Primeramente, quiero señalar que mi filiación Martinista es, por una parte, auténtica, ya que ella me ha sido conferida en su totalidad por Raymond BERNARD en 1966. La rama que constituye lo que se denominó al principio “Orden de los Caballeros Martinistas” no empieza entonces con mi filiación propia tras Christian Bernard, y según vuestro diagrama, sino directamente de Raymond BERNARD. Respecto a la filiación caballeresca, si os puedo decir que la ostento desde hace numerosos años, habiendo tenido el privilegio de haber servido dentro de A.·.M.·.O.·.R.·.C.·. y de tener ciertas funciones esotéricas importantes y sobretodo en cuanto Maestro de los Illuminati, he recibido ciertos legados concernientes a la Caballería Templaria. Así la ceremonia del 23 de Octubre de 1980, habilitándonos para constituir una nueva rama de la Tradición, no ha sido más que una confirmación de las filiaciones así como de la posibilidad de difundir o de retransmitir la influencia de la Caballería. Los rosacruces que pertenecían al círculo de los Illuminati saben muy bien que Raymond BERNARD poseía la filiación Templaria desde hacia tiempo, ya que la tenida ritual que condujo desde las ceremonias reservadas a los Illuminati no dejan ninguna duda.

Dicho esto, debo añadir, en lo concerniente a la Caballería, que el 27 de Diciembre de 1985, hemos sido armados “CABALLEROS DE LA ORDEN DE SAN MIGUEL” por el Caballero Michel SWYSEN, él mismo armado por Paul, Pierre, Jean NEYEU, Barón de Ginebra, nacido en la Fleche el 1º de Abril de 1882. “LA ORDEN DE SAN MIGUEL” llamada en nuestra época “ARCHICOMPAÑÍA MICHAELITA”, era en su esencia de estricta Observancia Cristiana Medieval y tenía línea directa con la Caballería Templaria. Su transmisión se ha efectuado a través de numerosas personalidades de la Historia, sobretodo algunos reyes de Francia y de España. [...]

Por lo que respecta a nuestra organización, su desarrollo y su expresión se continuan según un plan muy preciso. Su nombre de inicio ha sido “Orden de los Caballeros Martinistas”, después “Colegio de la Caballería Martinista” y después del 27 de Septiembre de 1986, lleva el nombre de “COLEGIO DEL TEMPLO DEL HOMBRE”. Este nombre concretiza la influencia Templaria que ya existía desde la creación, sin estar, sin embargo, definida con precisión, ya que las bases de partida eran Martinistas. No se trata pues, para nosotros, de reconstruir una Orden del Temple, sino, simplemente, de volver a los orígenes de una parte del Martinismo y, por otro lado, de una rama particular de la francmasonería. [...]

Sin embargo, continuamos enseñando y practicando aquello que se llama en nuestros días el “Martinismo” y que, de hecho, ha tenido su origen, y los archivos esotéricos lo prueba, en la antigua Caballería Templaria...”.

Pierre CRIMETZ

Soberano Gran Maestro