sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

ARCANUM ARCANORUM


Os Arcanum Arcanorum, dos quais fizeram correr muita tinta em vão, nestes últimos anos, gerando com isso um mito bastante inútil, constituem os quatros(as vezes três) graus terminais dos legítimos ritos maçônicos egípcios , graus particulares e somente presentes na Escala de Nápoles (do 87o ao 90o). Os AA estão presentes igualmente no seio de algumas organizações pitagóricas, rosacrucianas, e em restritos colégios hermetistas.

Dentro do ponto de vista maçônico, convém distinguir o sistema dos irmãos Bédarride baseado na Cabala do Regime de Nápoles, que constituía o verdadeiro sistema dos AA. Citemos Ragon que nos fala destes quatros graus: "Eles formam todo o sistema filosófico do verdadeiro rito de Misraïm, que satisfaz a todo maçom instruído, haja visto que os mesmos graus na maçonaria comum, são uma zombaria nascida da ignorância..."

Os AA são definidos por Jean Pierre Giudicelli de Cresac Bachalerie, em seu livro "De la Rose Rouge a la Croix d'Or" , editora Axis Mundi (Paris-1988), na pág. 67: " Este ensinamento concerne a uma Teurgia, é a entrada em relação com os eons-guias que devem tomar a direção para fazer compreender o processo iniciático, é também uma via alquímica muito fechada, que é um Nei Dan, isto é, uma via interna."

Os AA maçônicos parecem ser em realidade, mais que os graus terminais da maçonaria egípcia, é a introdução a um outro sistema. Os AA constituem de fato uma qualificação para outras ordens mais internas ligados as correntes osirianas ou pitagórica ou ainda a correntes dos Antigos Rosacruzes, como a Ordem dos Rosacruzes de Ouro do antigo sistema, Ordem dos Irmãos Iniciados e outras que permanecem desconhecidas, escapando assim à pesquisa histórica e sobretudo aos problemas humanos. J.P.G. de Cresac Bachelerie, faz referência à Brunelli em seu livro, já citado, na pág. 79, que os AA constituem de fato a introdução para outras ordens: "Como indicou Brunelli em seus formidáveis trabalhos sobre os ritos de Misraïm e Memphis, outras Ordens sucedem os AA". Saindo dos aspectos maçônicos, descobrimos quatro ou cinco outras ordens (Grande Ordem Egípcia, Ritos Egípcios assim como outras três que não podemos mencionar). "cada vez mais, certas organizações tradicionais não utilizam o nome AA", detendo a totalidade ou parte de conjunto teúrgico dos AA.

Os sistemas completos dos AA ,cuja maçonaria egípcia detêm uma parte, comporta de fato três disciplinas:

Teurgia e Cabala Angélica: com notadamente as invocações dos 4, dos 7, e a grande operação dos 72;
Alquimias metálicas: entre diferentes vias, os documentos em nossa posse parecem dar prioridade à via do Antimônio, mas outras vias, notadamente a via da Salamandra ou a via do Cinábrio parece constituir um elemento central do sistema, porque depende por sua vez da via externa e da via interna, seja por razões pedagógicas, seja por razões operativas.
Alquimias internas: segundo as correntes internas, as vias práticas diferem, menos tecnicamente que pelos detalhes filosóficos e místicos respectivos, as vezes totalmente opostos. As alquimias internas, como alhures as alquimias metálicas, encontram sua origem no Oriente e, mais particularmente, segundo Alain Daniélou, no Shivaísmo. Independente de onde sejam, já fazem parte da herança tradicional ocidental pelo menos há dois milênios, como atesta certos papiros egípcios e gnósticos ( pensamos notadamente nos importantes papiros Bruce). Em relação a alquimia interna, falamos de vias da imortalidade ou ainda de vias reais.

De modo geral, toda via real comporta simultaneamente uma magia natural (segundo Giordano Bruno, a magia é a arte da memória e manipulação dos fantasmas, é o domínio daquilo que certos teólogos denominam "o encantamento do mundo", uma teurgia e uma alquimia, vetor de uma via de imortalidade.

A questão das imortalidades é difícil de tratar porque não pode se inserir com sucesso em um modelo de mundo aristotélico, motivo pelo qual não é raro que a busca de uma sobre-humanidade, de uma mais-que-humanidade ou de uma não-humanidade conduza infelizmente à inumanidade. Mais ainda, podemos muito bem ter uma excelente compreensão intelectual de modelos não-aristotélicos, como o são, o Taoísmo, e o sistema de Gurdjieff, " sem haver Invertido os castiçais", para retomar a fórmula de Meyrinck no Rosto Verde. A sobre-humanidade poderia ser simbolizada por Hércules, indicando assim a via mágica do Herói, predispondo à mais-que-humanidade, simbolizada pelo Cristo, ou ainda por Orfeu, ou à não-humanidade, esta simbolizada por Osíris ou por Dionísio. Nós poderíamos encontrar outras referências, tanto no Ocidente como nas tradições orientais, para tentar fazer apreender aquilo que é efetivamente uma diferença de orientação. O Ser não é necessariamente orientado em direção a um pólo único, o que explica vias reais diferentes, não conduzindo, portanto, ao mesmo Lugar-Estado...

Os AA do Regime de Nápoles introduzem a uma alquimia interna de tradição egípcia em duas fases, uma "isíaca", a outra "osiriana". Naturalmente é neste último aspecto das alquimias internas que encontramos os aspectos mais especificamente osirianos dos AA . É provável que na Idade Média e na Renascença, este sistema fosse exclusivamente caldeu-egípcio, e seria pouco a pouco, e principalmente em seus aspectos mágicos e teúrgicos, que o sistema teria sofrido em certas estruturas tradicionais uma "cristianização" ou uma "hebraização". Encontramos as vezes com relação à este sujeito a expressão "cristianismo caldeu".

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